"Costa viu a sua carreira política liquidada para sempre"

Miguel Sousa Tavares entende que o Ministério Público deve prestar novos esclarecimentos sobre a investigação de que António Costa é alvo, lembrando as investigações que acabaram por não resultar em qualquer condenação, mas que deixaram pessoas com a vida "arrumada para sempre".

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Carmen Guilherme com Lusa
08/11/2023 08:52 ‧ 08/11/2023 por Carmen Guilherme com Lusa

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Sousa Tavares

Miguel Sousa Tavares afirmou, na terça-feira, que António Costa "viu a sua carreira política, não só interna como externa, liquidada para sempre", depois de o Ministério Público (MP) revelar que o agora primeiro-ministro demissionário é alvo de uma investigação. 

Em declarações na CNN Portugal, o comentador defendeu que o MP deve prestar novos esclarecimentos sobre o caso, numa altura em que os factos "ainda são praticamente desconhecidos".

"Das duas uma. Ou nós assistimos a de facto uma descoberta de uma imensa teia no coração do poder político, como jamais aconteceu na democracia portuguesa, ou, no dia 7 de novembro de 2023, o Ministério Público tomou o poder em Portugal. Infelizmente, só saberemos a resposta daqui a muitos anos", começou por dizer.

"Eu não levanto suspeitas nenhumas sobre o Ministério Público e quero acreditar, porque isso equivale a acreditar na Democracia e nos Estado de Direito, que o Ministério Público tem provas fortíssimas. Agora, acho que é devida uma explicação para além daquele lacónico comunicado que foi feito pelo seu gabinete de imprensa", acrescentou.

O jornalista reiterou as críticas aos atrasos na Justiça, lembrando as investigações que acabaram por não resultar em qualquer condenação, mas nota que este é um caso "grave de mais" e que, a haver falhas por parte do MP, "tem de haver responsáveis". 

"Infelizmente, sabemos por experiências anteriores, que o Ministério Público e a Justiça vão demorar anos a esclarecer isso. As prisões portuguesas estão cheias de celas vazias à espera de supostos condenados das investigações do Ministério Público que acabaram em nada. Neste caso, foi grave demais. E eu defendo que o Ministério Público tenha toda a autonomia e independência para investigar, mas não defendo a irresponsabilidade. Se o Ministério Público tropeçou aqui tem de haver responsáveis e esses responsáveis têm de pagar", declarou.

Miguel Sousa Tavares acabou ainda por questionar o 'timing' deste anúncio.

"O Ministério Público, em meu entender, não ponderou bem o 'timing' desta atuação. Estava há quatro anos a investigar, mais semana, menos semana, não fazia grande diferença. E acontece que o Orçamento é votado no dia 29 de novembro deste mês e, antes disso, ou em cima dessa data, vai sair o acórdão da Relação sobre o recurso do Ministério Público no caso de José Sócrates. E, aí, cria-se uma dúvida legitima, se o Ministério Público não quis exatamente fazer esta operação, esta razia, sobre o Governo do Partido Socialista, antes que saísse o acordão da Relação. Esta dúvida é legítima", apontou.

"E, no passado, o Ministério Público, que eu acho que é eficientíssimo, por exemplo, na investigação da corrupção autárquica, mas, quando aponta para casos que vai atras da opinião publica, das redes sociais, etc, deixa as prisões cheias de celas vazias de pessoas cuja vida, depois, fica arrumada para sempre", reforçou.

Assim, considerou: "António Costa hoje [terça-feira] viu a sua carreira politica, não só interna como externa, liquidada para sempre".

Desta forma, Miguel Sousa Tavares voltou a defender que o MP tem de apresentar mais esclarecimentos sobre o caso, sobretudo porque "não é todos os dias que se derruba um Governo de maioria absoluta na Assembleia da Republica".

"Eu não sei se, quando se diz que ele [António Costa] interveio para agilizar procedimentos, se isso é um crime, se isso faz dele um traficante de influências , um facilitador de processos de corrupção ou se, simplesmente, não é pratica normal de qualquer primeiro-ministro tentar desbloquear processos administrativos. É isso que o Ministério Público tem de provar e, eu acho que tem de ir para além daquilo que disse no comunicado, porque não é todos os dias que se derruba um Governo de maioria absoluta na Assembleia da Republica", rematou.

Recorde-se que a manhã de ontem foi dominada pelas notícias das buscas da Polícia de Segurança Pública (PSP) e do MP sobre os projetos de lítio e hidrogénio, em que, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), estarão em causa os crimes de prevaricação, de corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e de tráfico de influência. Entre os envolvidos estavam o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, que foi detido, e o ministro das Infraestruturas, João Galamba, que é arguido.

Mas só com o comunicado da PGR se soube que estava envolvido António Costa, que recusou a prática "de qualquer ato ilícito" ou censurável, e manifestou total disponibilidade para colaborar com a justiça "em tudo o que entenda necessário". Além disso, acabou por apresentar a sua demissão.

O chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, dois administradores da sociedade Start Campus e um consultor - que não é identificado, embora vários jornais tenham identificado como Diogo Lacerda, advogado e empresário próximo de Costa - foram detidos no âmbito da investigação aos negócios do lítio e hidrogénio verde.

Leia Também: Dos patrões aos sindicatos, como se viu o 'adeus' de Costa (e o impacto)

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