"Envergonha-me". Costa pediu "desculpa" (e falou de Centeno e Lacerda)
António Costa disse este sábado que a "apreensão de envelopes com dinheiro no gabinete de uma pessoa que escolhi, mais do que me magoar, envergonha-me" e pediu "desculpa" aos portugueses. Falou ainda do (seu) futuro, de Mário Centeno e de Diogo Lacerda Machado.
© Lusa
País António Costa
O primeiro-ministro afirmou este sábado que o dinheiro encontrado em envelopes no escritório do seu ex-chefe de gabinete Vítor Escária lhe suscitou mágoa pela confiança traída, envergonhou-o e pediu desculpa aos portugueses.
Esta posição sobre o seu ex-chefe de gabinete Vítor Escária, detido na terça-feira para interrogatório, foi transmitida por António Costa logo no início da sua comunicação ao país, em São Bento.
"Sem me querer substituir à justiça, em que confio e que respeito, não posso deixar de partilhar com os meus concidadãos que a apreensão de envelopes com dinheiro no gabinete de uma pessoa que escolhi para comigo trabalhar, mais do que me magoar pela confiança traída, envergonha-me perante aos portugueses e aos portugueses tenho o dever de pedir desculpa", declarou.
Vítor Escária, que iniciou as funções de chefe de gabinete do primeiro-ministro em 2020, foi detido para interrogatório na terça-feira e nas buscas judiciais ao seu gabinete na residência oficial de São Bento foram apreendidos 75.800 euros em numerário.
Investimentos “nunca podem resultar de mera decisão arbitrária de qualquer membro do Governo"
O primeiro-ministro demissionário afirmou que a esta sua declaração serviu "para que Portugal não desperdice oportunidades estratégicas e para que futuros governos não percam instrumentos essenciais". Segundo António Costa, os próximos governos têm o dever de trabalhar na "atração de investimento estrangeiro" e realçou que existem "regras especiais a projetos de interesse nacional tem de acontecer com transparência".
Sobre as minas de lítio em Montalegre ou Boticas diz que "houve estudos de impacto ambiental" e que esta "exigência de compatibilização das várias dimensões de interesse público é particularmente crítica em Sines".
António Costa referiu que "houve estudos de impacto ambiental" sobre as minas de lítio em Montalegre e em Boticas. Referiu ainda que "a simplificação de procedimentos promove a transparência". António Costa recordou que o Simplex de licenciamento foi começado em 2021 pelo seu Governo e considerou que "a burocracia promove a opacidade".
Ainda assim, sublinhou, esses investimentos "nunca podem resultar de mera decisão arbitrária de qualquer membro do Governo". Costa salientou ainda que "cabe às autoridades punir e investigar o comportamento ilegal" e assegurou que respeita e confia na Justiça. "Qualquer membro do Governo, a começar por mim, daremos às autoridades toda a colaboração que seja necessária".
"Com grande probabilidade, não exercerei nunca mais um cargo público"
António Costa começou a responder às perguntas do jornalistas, no final da sua declaração ao país e negou estar a "interferir no processo judicial". "Quando alguém me quiser ouvir num processo judicial, chamar-me-ão", afirmou.
O primeiro-ministro demissionário afirmou que era necessário "clarificar" algumas ideias. "Com grande probabilidade não exercerei nunca mais qualquer cargo público", disse Costa, salientando ainda o tempo que o processo demorará a ser resolvido.
"Nunca houve resposta definitiva por parte do professor Centeno"
António Costa justificou também, quando questionado por um jornalista, a proposta do nome de Mário Centeno para seu sucessor: "Na minha consciência, havia a necessidade de encontrar alternativas à dissolução da Assembleia da República".
"O professor Mário Centeno tem sólida experiência governativa, merece o respeito e admiração dos portugueses e tem reconhecimento internacional". Costa fez questão de salientar que, quando falou com Mário Centeno, o fez "com conhecimento do senhor Presidente da República".
No entanto, António Costa reforçou que "nunca houve uma resposta definitiva por parte do professor Mário Centeno".
Lacerda Machado? "Nunca falou comigo a respeito deste assunto"
António Costa foi também questionado se Diogo Lacerda Machado e Vítor Escária tinham sido autorizados a referir o seu nome para resolver problemas em determinados projetos. Costa referiu que depositava em Escária a confiança para o exercício das funções que desempenhava. Reforçou que desconhece a versão do ex-chefe do seu gabinete e que, por isso, "não se substituirá à Justiça em fazer juízos sobre a forma como agiu".
Já sobre Lacerda Machado, António Costa garantiu que o advogado já não trabalhava para o seu gabinete "há vários anos". "Não tinha qualquer mandato da minha parte e nunca falou comigo a respeito deste assunto", garantiu.
Depois, referiu-se às suas relações pessoais com o antigo secretário de Estado Diogo Lacerda Machado. "Apesar de, num momento de infelicidade, ter dito que ele era o meu melhor amigo, aquilo que é a realidade é que um primeiro-ministro não tem amigos. E quanto mais tempo exerce, devo dizer, aliás, menos amigos tem", contrapôs.
Recorde aqui a declaração ao país de António Costa:
[Notícia atualizada às 21h23]
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