O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, recusou, esta quarta-feira, comentar o caso das gémeas luso-brasileiras que foram tratadas com um medicamento milionário no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, alegadamente com uma 'cunha' do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
"Evidentemente que, na governação, há muitos pedidos dos cidadãos, muitas reclamações, muitas queixas, que têm de ser tratadas e são legitimamente tratadas numa sociedade democrática", referiu em declarações aos jornalistas, no Porto, ressalvando que "isso é muito distinto de alterar a ordem de prioridade normal do funcionamento dos serviços".
Questionado em específico sobre o caso das gémeas luso-brasileiras, o ministro não se quis pronunciar para "não condicionar" as investigações.
"Considero que não devo fazê-lo, quanto mais não seja para não condicionar quer a auditoria do Hospital de Santa Maria quer a inspeção da IGAS [Inspeção-Geral das Atividades em Saúde]", explicou.
Sublinhe-se que o caso das gémeas foi revelado numa reportagem da TVI, transmitida no início de novembro, segundo a qual duas crianças luso-brasileiras vieram a Portugal em 2020 receber o medicamento Zolgensma, - um dos mais caros do mundo - para a atrofia muscular espinhal, que totalizou no conjunto quatro milhões de euros.
Segundo a TVI, havia suspeitas de que isso tivesse acontecido por influência do Presidente da República, que negou qualquer interferência no caso.
Na segunda-feira, Marcelo Rebelo de Sousa revelou que a correspondência sobre este caso começou em 21 de outubro de 2019 com um e-mail que o seu filho, Nuno Rebelo de Sousa, lhe enviou, sublinhando ter dado um despacho "neutral e igual a que deu em 'n' casos".
Acrescentou não ter havido "intervenção do Presidente da República pelo facto de ser filho ou não ser filho", com a troca de informação junto da Presidência a terminar dez dias depois, em 31 de outubro.
"O que se passou a seguir não sei, para isso é que há a investigação da PGR. E espero, como disse há dias, que seja cabal, para se perceber o que se passou desde o momento em que saiu de Belém", afirmou.
O caso está a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República e pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).
Leia Também: Gémeas? Fizemos o habitual, "um reencaminhamento". "Ponto final"