Jornalistas noticiam situações laborais menos más que as que vivem

Os jornalistas precários noticiam frequentemente situações laborais que, sendo más, não são tão más quanto aquelas que os próprios vivem, segundo as conclusões preliminares de um estudo qualitativo da Rede Interuniversitária de Estudos sobre Jornalistas.

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Lusa
19/01/2024 13:00 ‧ 19/01/2024 por Lusa

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A jornalista e investigadora Alexandra Figueira (da Universidade Lusófona do Porto) apresentou hoje, no Congresso dos Jornalistas, que decorre em Lisboa, as conclusões preliminares do estudo qualitativo "Precariedade no Jornalismo".

Este estudo baseia-se em entrevistas aprofundadas a 30 jornalistas em situação precária de todo o país e de várias faixas etárias, incluindo de jornais, de televisão, de rádio, agência, fotojornalistas e repórteres de imagem.

Em conversa com a Lusa, Alexandra Figueira disse que a maioria trabalha para meios de comunicação social nacionais em regime de avença mensal ou pagamento à peça, sendo chamados sempre que as chefias considerem necessário (incluindo à noite e fins de semana e feriados), sem ter dias de folga predefinidos e tirando, por ano, apenas uma ou duas semanas de férias e não pagas. Em troca, recebem um ordenado médio de cerca de 1.000 euros brutos (de que têm de pagar impostos e contribuições sociais).

A investigadora afirmou que uma "ironia salientada por várias pessoas" é que frequentemente "relatam em notícias condições de trabalho de outras atividades que, sendo más, não são tão más quanto as que vivem".

Os jornalistas entrevistados consideram que a sua precariedade não diminui a sua responsabilidade ética e deontológica, que é a mesma que a dos jornalistas com situação estável, mas disseram que os deixa "numa situação de vulnerabilidade perante as hierarquias" e que faz com que tenham menos capacidade de recusar trabalhos que lhes colocam questões éticas e deontológicas, como publireportagens.

"É o medo de perder o trabalho e de perder a fonte de rendimento, apesar de entenderem que no plano ético e deontológico são iguais aos outros. Não é a relação laboral que diminui o sentido ético e deontológico", afirmou Alexandra Figueira.

A investigadora disse que uma das questões feitas a esses jornalistas foi porque continuam na profissão apesar das más condições laborais e que o justificam desde o "gosto pessoal pela profissão", a "ser jornalista é que me faz feliz", até entenderem que o seu "contributo para a sociedade é o trabalho como jornalista".

Alexandra Figueira disse que há mesmo quem justifique ser jornalista "como ato de resistência".

"Há quem diga 'sou jornalista apesar das condições em que sou jornalista'", afirmou.

O 5.º Congresso dos Jornalistas decorre desde quinta-feira e até domingo em Lisboa, no cinema São Jorge, numa altura em que os problemas do grupo Global Media (dono de JN, DN e TSF, entre outros) dominam as preocupações do setor. Trabalhadores deste grupo continuam com ordenados em atraso e há ameaça de despedimento coletivo até 200 pessoas.

Nas últimas semanas também tem sido muito discutida a crise do modelo de negócio do jornalismo e como se deve financiar o jornalismo, face à queda das receitas de publicidade e da venda de jornais.

Segundo a Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas, há 5.313 jornalistas, 3.110 homens e 2.203 mulheres.

A Rede Interuniversitária de Estudos sobre Jornalistas (RIEJ) é uma associação informal de investigadores da Universidade Lusófona do Porto, Universidade do Minho, Universidade de Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, Escola Superior de Educação de Coimbra e Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa.

Leia Também: Mais de 300 jornalistas presos por causa do seu trabalho em todo o mundo

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