A jornalista e investigadora Alexandra Figueira (da Universidade Lusófona do Porto) apresentou hoje, no Congresso dos Jornalistas, que decorre em Lisboa, as conclusões preliminares do estudo qualitativo "Precariedade no Jornalismo".
Este estudo baseia-se em entrevistas aprofundadas a 30 jornalistas em situação precária de todo o país e de várias faixas etárias, incluindo de jornais, de televisão, de rádio, agência, fotojornalistas e repórteres de imagem.
Em conversa com a Lusa, Alexandra Figueira disse que a maioria trabalha para meios de comunicação social nacionais em regime de avença mensal ou pagamento à peça, sendo chamados sempre que as chefias considerem necessário (incluindo à noite e fins de semana e feriados), sem ter dias de folga predefinidos e tirando, por ano, apenas uma ou duas semanas de férias e não pagas. Em troca, recebem um ordenado médio de cerca de 1.000 euros brutos (de que têm de pagar impostos e contribuições sociais).
A investigadora afirmou que uma "ironia salientada por várias pessoas" é que frequentemente "relatam em notícias condições de trabalho de outras atividades que, sendo más, não são tão más quanto as que vivem".
Os jornalistas entrevistados consideram que a sua precariedade não diminui a sua responsabilidade ética e deontológica, que é a mesma que a dos jornalistas com situação estável, mas disseram que os deixa "numa situação de vulnerabilidade perante as hierarquias" e que faz com que tenham menos capacidade de recusar trabalhos que lhes colocam questões éticas e deontológicas, como publireportagens.
"É o medo de perder o trabalho e de perder a fonte de rendimento, apesar de entenderem que no plano ético e deontológico são iguais aos outros. Não é a relação laboral que diminui o sentido ético e deontológico", afirmou Alexandra Figueira.
A investigadora disse que uma das questões feitas a esses jornalistas foi porque continuam na profissão apesar das más condições laborais e que o justificam desde o "gosto pessoal pela profissão", a "ser jornalista é que me faz feliz", até entenderem que o seu "contributo para a sociedade é o trabalho como jornalista".
Alexandra Figueira disse que há mesmo quem justifique ser jornalista "como ato de resistência".
"Há quem diga 'sou jornalista apesar das condições em que sou jornalista'", afirmou.
O 5.º Congresso dos Jornalistas decorre desde quinta-feira e até domingo em Lisboa, no cinema São Jorge, numa altura em que os problemas do grupo Global Media (dono de JN, DN e TSF, entre outros) dominam as preocupações do setor. Trabalhadores deste grupo continuam com ordenados em atraso e há ameaça de despedimento coletivo até 200 pessoas.
Nas últimas semanas também tem sido muito discutida a crise do modelo de negócio do jornalismo e como se deve financiar o jornalismo, face à queda das receitas de publicidade e da venda de jornais.
Segundo a Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas, há 5.313 jornalistas, 3.110 homens e 2.203 mulheres.
A Rede Interuniversitária de Estudos sobre Jornalistas (RIEJ) é uma associação informal de investigadores da Universidade Lusófona do Porto, Universidade do Minho, Universidade de Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, Escola Superior de Educação de Coimbra e Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa.
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