"Todos temos de trabalhar para construir a democracia e para melhorar a sua qualidade e esse é o repto que nós temos que entregar no âmbito destas celebrações", afirmou Maria Inácia Rezola em entrevista à Lusa, a três meses de se assinalar o meio século do golpe militar que pôs fim 48 anos de ditadura.
Questionada se o aumento do extremismo na Europa, incluindo em Portugal, põe em causa a democracia, respondeu que esta é "uma das grandes conquistas de Abril, mas a democracia nunca pode ser -- e isto é uma frase feita, mas é verdade - uma realidade adquirida".
Para a professora e historiadora, a democracia é o "envolvimento na causa pública, no meio público e, portanto, a diferentes níveis com diferentes papéis".
"A democracia conquistou-se, [mas] é preciso preservá-la. É a célebre imagem do 'é preciso regar os cravos' ", defendeu.
A revolução portuguesa ficou conhecida como Revolução dos Cravos uma vez que a população lisboeta aderiu de forma entusiástica à revolta militar no dia 25 de Abril de 1974 e ofereceu comida, bebidas e cravos vermelhos aos soldados, que decidiram enfiá-los nos canos das espingardas.
A historiadora lembrou ainda que a instituição da democracia estava consignada desde o início no programa político do Movimento das Forças Armadas (MFA) na sigla dos três D: democratizar, descolonizar e desenvolver.
"Um dos pontos fortes do programa do MFA era garantir a realização no prazo máximo de um ano de eleições livres e universais, por sufrágio direto aos portugueses. O sucesso das eleições deixou patente a importância dessa conquista" ao terem votado mais de 90% dos portugueses, recordou.
Relativamente à atualidade e à crise política que levou à convocação de eleições antecipadas para o próximo mês de março, Rezola disse que apesar de a estabilidade política ser desejável, esse facto não faz esmorecer as comemorações.
"É muito interessante ver a mobilização de todas as pessoas, todas as entidades, todos os setores da sociedade portuguesa e todas as gerações envolvidas nessa celebração de 50 anos de democracia, nós trabalhamos quotidianamente para que o 25 de Abril seja dignificado", afirmou.
A comissária entende ainda que estas celebrações dos 50 anos são particularmente importantes.
"Nós não nos podemos esquecer que esta será provavelmente a última data redonda em que podemos, felizmente, contar com muitos, não todos, mas com muitos dos protagonistas. E, portanto, esta passagem de testemunho será feita independentemente da situação política geral. É essa que deve ser a nossa missão e deve ser no nosso empenhamento", justificou.
Os 50 anos do 25 de Abril estão a ser assinalados desde 2022, ano em que Portugal passou a viver mais tempo em democracia do que em ditadura.
As comemorações vão prolongar-se até 2026, para que se assinalem também os 50 anos da aprovação da Constituição, da formação do I Governo Constitucional, a eleição do Presidente da República, a realização de eleições regionais nos Açores e na Madeira e das autárquicas.
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