"Quanto mais depressa o Governo nos responder, mais depressa nós vamos desmobilizar", afirma à agência Lusa António Saldanha, agricultor e um dos dinamizadores do Movimento Civil Agricultores de Portugal na região alentejana.
A circulação rodoviária nos principais acessos à fronteira com Espanha na zona de Elvas começou a ficar entupida às primeiras horas da manhã, devido ao protesto dos agricultores, primeiro na Estrada Nacional (EN) 4 e, depois, na Autoestrada A6.
Às 10:00, a fronteira do Caia encontrava-se totalmente cortada, quer na A6, com carrinhas e veículos todo-o-terreno atravessados em vários pontos da autoestrada, quer numa via secundária paralela, que tem tratores a impedir a passagem.
António Saldanha diz que, para os agricultores, "o objetivo está cumprido", pois "a fronteira está bloqueada" à entrada no país de transportes de alimentos e que só passam veículos ligeiros cujos condutores precisem mesmo de se movimentar.
"O objetivo era bloquear o transporte de alimentos provenientes de Espanha e proteger a produção nacional", salienta, admitindo que este protesto se realiza "um bocado à imagem do que tem acontecido em França".
Porém, sublinha o responsável, o descontentamento em Portugal é diferente de outros países europeus, já que advém "de medidas que estavam estabelecidas pelo Governo com os agricultores portugueses e que não foram cumpridas".
Este agricultor da zona de Évora não quer saber das ajudas anunciadas, na quarta-feira, pelo Governo, argumentando que "as promessas não alimentam ninguém, as promessas apenas dão votos".
"As respostas que esperamos do Governo é pagarem o que nos devem", acrescenta.
Pelo menos uma mesa com enchidos, pão e vinho foi montada em plena A6, a cerca de um quilómetro de Espanha, e, enquanto 'tiram um petisco', alguns manifestantes debatem os problemas do setor e as políticas do Governo PS.
Entre amigos, o também agricultor João Dias Coutinho destaca à Lusa a postura "de gente honrada e séria" que participa no protesto para exigir a possibilidade de o setor português "ser competitivo com os mercados" estrangeiros.
"Queremos poder fazer o nosso trabalho e criar riqueza para Portugal", realça.
Dias Coutinho critica a atual política europeia para o setor por considerar que "o agricultor tem que ser mais um administrativo e pensar onde vai sacar dinheiro" do que "estar preocupado com a sua produção e em aumentar a produtividade".
Considerando que os cortes nas ajudas à produção biológica "foi a gota de água de um copo que estava cheio", este agricultor lança 'farpas' às associações e às confederações do setor, que, considera, "não protegem ninguém".
"Se calhar, protegem-se a si mesmos e a uma estrutura completamente caduca e submissa a um poder que é contrário à agricultura nacional europeia", atira.
Parado, há várias horas, num camião na A6, António Calado mostra-se, em declarações à Lusa, zangado com o protesto dos agricultores, já que tem que conduzir o pesado carregado de papel até Valência, em Espanha.
"Já estou aqui entalado e não sei quando vou sair daqui", afirma este motorista, que não encontra explicações para estar a ser prejudicado quando, salienta, "nada tem a ver com o assunto dos agricultores".
Já informou a empresa e a agência de transporte para as quais está em serviço e agora espera ter paciência até que desbloqueiem a autoestrada.
Os agricultores estão hoje na rua com os seus tratores, de norte a sul, reclamando a valorização do setor e condições justas, num protesto que deverá bloquear várias estradas, tal como tem acontecido em outros pontos da Europa.
A iniciativa é organizada pelo Movimento Civil de Agricultores de Portugal.
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