Salgado? "Uma pessoa nestas condições não tem direito a processo justo"
A defesa de Ricardo Salgado garantiu, também, que não tem "vergonha" do estado atual do banqueiro, que foi diagnosticado com Alzheimer.
© Lusa
País Caso EDP
Francisco Proença de Carvalho, advogado do antigo líder do Grupo Espirito Santo (GES), Ricardo Salgado, falou aos jornalistas após uma breve audição no Juízo Central Criminal de Lisboa.
"A doença de Alzheimer não é uma brincadeira. O meu cliente muitas vezes não sabe o dia em que está, onde está, perde-se em casa, não sabe o nome de familiares próximos", começou por explicar aos jornalistas o advogado, afirmando que Salgado "não pode, obviamente, esclarecer com o mínimo de consistência o que quer que seja num processo com esta complexidade".
O antigo presidente do GES compareceu, esta sexta-feira, no Juízo Criminal Central de Lisboa para prestar declarações no caso EDP, mas a audição demorou apenas 10 minutos. Salgado foi diagnosticado, previamente, com Alzheimer, mas uma perícia tinha-o considerado apto para dar declarações.
"O meu cliente está diagnosticado com doença de Alzheimer, como está comprovado. As declarações estão comprometidas e, em defesa da dignidade humana, a defesa não vai aceitar que ele preste mais declarações. Não por não querer, mas por causa da doença. É esta a decisão da defesa", declarou o advogado, citado pela Lusa, depois de várias questões de identificação feitas pela juíza-presidente Ana Paula Rosa.
"Uma pessoa nestas condições não tem direito a um processo justo e equitativo, porque não se pode autodefender e explicar os seus factos e as suas razões. Não que não quisesse, é que está impedida por uma questão médica grave", continuou o advogado, afirmando que "não é preciso perícia, ser advogado ou jornalista para chegar à conclusão do óbvio, basta ir ao Google".
Sobre o porquê de a defesa de Salgado ter insistido em entrar pela porta principal do tribunal, Proença de Carvalho argumentou: "Às vezes, uma imagem vale mais do que mil palavras. Uma vez que a imagem do meu cliente foi tão devassada ao longo destes 10 anos, seria bom que vissem. Não temos vergonha nenhuma do estado em que está. É um ser humano, como sempre foi, e muitas vezes tentaram colocá-lo a um nível que não era humano".
A defesa do banqueiro deixou ainda alertas ao Estado português que, "se se continuar a comportar de uma maneira quase indiferente", será "de certeza condenado por um tribunal para os direitos humanos".
Salgado respondeu a certas perguntas, a outras não conseguiu
O ex-banqueiro chegou à sala de tribunal pelas 10h15, poucos minutos depois de ter entrado pela porta da frente do Juízo Central Criminal de Lisboa, visivelmente debilitado.
Após uma pequena indefinição onde o ex-banqueiro e a mulher poderiam ficar sentados, uma vez que Salgado assumiu ter perdido audição e que não conseguia ouvir bem, o tribunal começou a proceder à identificação formal do arguido. A juíza-presidente perguntou o nome, o nome dos pais, a data de nascimento, o estado civil e o local onde morava - questões às quais Ricardo Salgado conseguiu responder.
Porém, quando questionado sobre a morada de residência, expressou a primeira limitação: "Tenho de perguntar à minha mulher".
Já sobre o que fez na vida, o antigo presidente do BES soube indicar que foi banqueiro. "Sempre", complementou, antes de voltar a mostrar dificuldades para demonstrar saber os factos do caso que o levaram a estar hoje em tribunal: "Isso já não sei explicar".
Ricardo Salgado reconheceu e identificou de seguida o ex-ministro da Economia Manuel Pinho, igualmente presente na sala de audiência, e foi quando a juíza procurou confirmar que trabalharam juntos no BES e onde também conheceu a mulher do antigo governante e também arguida, Alexandra Pinho, que a defesa de Salgado acabou por interromper.
A juíza-presidente Ana Paula Rosa argumentou que ainda nem tinha feito perguntas e que estava somente na fase de identificação.
Acabou então por questionar apenas Ricardo Salgado se sabia que o julgamento já tinha começado há algum tempo e se permitia que continuasse na sua ausência, ao que o ex-banqueiro acedeu. A audição terminou ao fim de 10 minutos, praticamente dois anos depois de ter estado pela última vez no Campus da Justiça, então no julgamento do processo separado da Operação Marquês, em que seria condenado em março de 2022 a seis anos de prisão.
O ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, está a ser julgado no Caso EDP por corrupção ativa para ato ilícito, corrupção ativa e branqueamento de capitais, num processo em que são também arguidos o ex-ministro da Economia Manuel Pinho (corrupção passiva para ato ilícito, corrupção passiva, branqueamento e fraude fiscal) e a sua mulher, Alexandra Pinho (branqueamento e fraude fiscal - em coautoria material com o marido).
Manuel Pinho encontrou Salgado "envelhecido"
À saída do tribunal, o antigo ministro da Economia Manuel Pinho foi interpelado pelos jornalistas, mas não teceu comentários ao caso em que é arguido. Sobre como encontrou Ricardo Salgado, cingiu-se a comentar que este "estava envelhecido, naturalmente".
[Notícia atualizada às 11h27]
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