"Conhecer o Passado para construir o Futuro" é o nome do projeto educativo desenvolvido pela Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril e pelo Plano Nacional de Leitura em torno da obra "Livro Livre" e que decorreu em escolas do concelho do Seixal, no distrito de Setúbal.
O "Livro Livre" - uma edição LUPA, com textos de Francisco Bairrão Ruivo, design e ilustração de Joana Paz e Danuta Wojciechowska e consultoria de Maria Emília Brederode Santos --- toma como referência a Revolução de Abril e apela ao espírito da liberdade, convocando o leitor a participar numa atividade criativa, como coautor.
Durante quatro meses, a iniciativa, que contou também com o apoio da Câmara Municipal do Seixal, mobilizou quatro turmas de diferentes gerações e professores de várias disciplinas: uma turma do 6.º ano da EB 2,3 Paulo da Gama, uma turma do 9.º ano e uma turma de Educação e Formação de Adultos (EFA) da Escola Secundária de Amora, e uma turma da Universidade Sénior.
No total estiveram envolvidos 70 alunos coautores e 12 professores que mediaram o projeto com as suas turmas. Os trabalhos serão apresentados na quinta-feira, no auditório dos Serviços Centrais do Município do Seixal.
Gabriel Silva foi um dos alunos envolvidos. Com 11 anos e a frequentar o 6.º C da Paulo da Gama, descreveu, em declarações à agência Lusa, a experiência de descobrir como o país mudou após o 25 de Abril.
"É uma data importante para Portugal, porque senão hoje muitas das meninas da minha turma não estavam na escola e não havia a qualidade de vida que temos agora", disse.
O aluno, que sonha ser jogador de futebol profissional, descreve numa das páginas do seu "Livro Livre" que o projeto o ajudou a conhecer a História de Portugal, mas também pessoas novas e a suas histórias sobre Abril, entre as quais alguns professores que viveram a revolução dos cravos.
Paula Carvalho, professora de Gabriel e coordenadora do projeto na escola Paulo da Gama, destaca o facto de o livro ter permitido trabalhar o assunto em diferentes disciplinas, desde a Matemática à Educação Visual e Tecnológica, passando pela História e pelo Português, disciplina que leciona.
Neste caminho de reflexão que fizeram através de breves enquadramentos históricos, ilustrações e propostas de atividade diversificadas do livro, explica a professora, os alunos perspetivaram também a escola do futuro e analisaram, a partir do conhecimento histórico da época, os problemas com que a sociedade de hoje ainda se confronta.
A música foi outro dos elementos usados no trabalho com os alunos.
"Fizemos um poema de intervenção e estamos a fazer a música", explica Gabriel, com um sorriso.
E se Gabriel Silva afirma ter aprendido sobre uma revolução que este ano faz 50 anos, Artur Francisco, aluno da Universidade Sénior, construiu o seu "Livro Livre" a partir de muitas histórias que viveu na primeira pessoa.
"Foi um lembrar de tudo o que se passou. Uma convulsão tão grande na nossa sociedade e que trouxe coisas tão boas. As pessoas não têm a noção do que era antes", disse, em declarações à agência Lusa, sublinhando que cada livro construído neste projeto tem outro livro dentro com a experiência e o olhar de cada um.
O facto de colocar várias gerações a "reviver ou a aprender" a Revolução de Abril torna o projeto muito importante aos olhos de Artur Francisco, pela mensagem a reter: "Nada está conquistado, nada está garantido."
Caberá às novas gerações, acrescenta, continuar o trabalho de conquistado em abril de 1974.
Para a professora Paula Carvalho, a riqueza deste projeto deixa uma vontade de o poder alargar a todas as turmas, "assim houvesse meios para o fazer".
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