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25/Abril. Alojamento de retornados foi a tábua de salvação do turismo

O alojamento dos retornados portugueses em unidades hoteleiras após o 25 de Abril foi a "tábua de salvação" para o setor que, em virtude da revolução, sofreu uma queda da procura internacional e não sobrevivia com os turistas nacionais.

25/Abril. Alojamento de retornados foi a tábua de salvação do turismo
Notícias ao Minuto

09:15 - 10/04/24 por Lusa

País 25 de Abril

"Após a revolução, e como é normal, o mercado internacional retraiu-se muito. Até 1974, Portugal era um país que recebia muito mercado americano e, com a revolução, esse mercado desapareceu, retraiu-se e deixou de vir", afirma Luís Alves de Sousa, dirigente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP).

Segundo o antigo presidente desta organização, "os hoteleiros nacionais tiveram de se virar para o mercado interno e um bocadinho para o mercado espanhol, que era o que vinha com mais facilidade", mas tal revelou-se insuficiente, pois Portugal tinha "um parque hoteleiro grande para o mercado nacional com capacidade financeira para utilizar hotéis".

Em 1975 começaram a chegar a Portugal os portugueses residentes nas antigas colónias africanas, que viriam a ser 471.427, segundo o Censos de 1981, e o seu alojamento exigiu medidas de um Governo a braços com os objetivos traçados pelo Movimento das Forças Armadas (MFA): Democratizar, Descolonizar e Desenvolver.

Foi criado o Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais (IARN) que "começou a negociar com os hoteleiros o alojamento para esses retornados", conta o empresário hoteleiro.

"É evidente que os preços que o IARN pagava, que era o Estado que pagava, eram muitíssimo baixos e praticamente não davam para cobrir as despesas, até porque a maior parte dos hotéis com restaurante acabava por negociar com o Estado o fornecimento de refeições", refere.

Ao todo, os retornados sem residência nem outro apoio em Portugal foram alojados em 1.457 hotéis, pensões, alojamentos particulares e coletivos - incluindo 57 cadeias, entre as quais o emblemático Forte de Peniche -, o que, em 1976, custava ao Estado português cerca de 20 milhões de escudos por dia, o que equivale a 2,7 milhões de euros diários, à moeda e valores de hoje.

De acordo com um dos relatórios publicados em 1979 pelo Comissariado para os Desalojados, em finais de dezembro de 1976, encontravam-se alojados nestes espaços 71.658 portugueses, um número que diminuiu para 18.087 em 1978, baixando igualmente a fatura do Estado.

"Foi um apoio importante, porque era dinheiro que entrava, ia pagando os ordenados e algumas despesas, mas não permitia que as unidades hoteleiras se mantivessem no seu estado normal, com todas as despesas liquidadas, sem endividamento e sobretudo com manutenção e conservação", refere o dirigente da AHP, sublinhando que foi, sem dúvida, "um apoio importante" e uma alternativa ao fecho dos hotéis, o que "aconteceu a alguns".

O empresário traça o paralelismo entre o que aconteceu após o 25 de Abril e o que aconteceu durante a pandemia de covid-19: "A Europa e os governos deram algum apoio aos hotéis para cobrir os ordenados dos nossos colaboradores que estavam em casa, que foi um apoio importante para cobrir os ordenados, mas que não cobriu um cêntimo da despesa dos hotéis, como energia, manutenção, segurança, etc., mas que foi importante para manter as unidades hoteleiras a funcionar".

Luís Alves de Sousa recorda "outro problema bastante grave" que surgiu quando os retornados começaram a sair das unidades hoteleiras e a refazer as suas vidas.

"A maioria dos hotéis estava num estado lastimoso", diz, acrescentando: "Num quarto previsto para duas pessoas podiam estar quatro e até mais. Tudo isso leva à degradação e depois foi preciso fazer uma recuperação muito grande desses hotéis e um investimento enorme para recuperar as unidades".

Com 72 anos, Luís Alves de Sousa regressou a Portugal em 1974, após cumprir serviço militar em África. Dois anos depois abriu o primeiro hotel.

Sobre o crescimento do turismo em Portugal, diz que já há 50 anos acreditava nas "imensas condições que Portugal tem para receber turistas".

"Sempre imaginei que Portugal podia crescer muitíssimo e atingiu os níveis a que chegou hoje. O turismo é um ativo extraordinário, mas é preciso cuidar dos destinos", diz.

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