O líder parlamentar do Partido Social Democrata (PSD), Hugo Soares, teceu duras críticas à reação do Partido Socialista (PS) quanto à exoneração da administração da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa por "se ter revelado incapaz de enfrentar os graves problemas financeiros e operacionais da instituição", tendo apelado a que o coletivo "assente os pés na terra" e "assuma responsabilidades" pelas suas ações ao longo dos últimos oito anos de governação.
"Sinceramente, o PS aparenta viver numa realidade que não é a realidade que os demais portugueses vivem. O PS, responsável como Governo e como tutela nos últimos oito anos, pelo estado a que a Santa Casa da Misericórdia chegou, com uma rutura de tesouraria, com um incumprimento das suas obrigações de ação social mais básica de proteger os mais desfavorecidos, ao invés de estar preocupado com a situação da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, está preocupado em dar lições catedráticas ao país", começou por dizer o responsável, esta terça-feira, em declarações aos jornalistas.
Hugo Soares adiantou que os cidadãos "podem estar tranquilos", uma vez que o Governo não pretende "nomear gente que tenha ligações partidárias", mas sim "nomear os melhores para poder gerir o que é de todos".
"Houve praticamente uma rutura de tesouraria em junho do ano passado. A senhora provedora não tomou medidas, não apresentou medidas à tutela, e essa é a razão que está subjacente à exoneração, segundo é público, e que a senhora ministra terá oportunidade de explicar ao país e ao Parlamento", disse.
E atirou: "Queria lançar um apelo ao PS; que assente os pés na terra. Que assuma as suas responsabilidades. Que não nos confunda. Nós não governamos como o PS. Queremos governar para as pessoas, preocupados com as pessoas. Que fique muito claro que o Governo não leva lições do PS, que são catedráticos em nomeações e em enxamear o Estado com gente do aparelho do PS. A nossa preocupação é recuperar a instituição da Santa Casa da Misericórdia e colocá-la a funcionar de acordo com as suas matrizes e princípios orientadores."
O líder partidário apontou não ter qualquer indicação do Governo quanto ao nome que será escolhido para assumir o cargo de provedor, mas reiterou que a pessoa "deve ser nomeada pelas suas capacidades".
"Não pusemos em causa quando o PS nomeou uma ex-ministra do Governo socialista para a provedoria da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Não nos ouviu fazer esta reação, que diria ser histérica e irresponsável, de querer comparar o que não é comparável", disse.
E complementou: "O PS teve ainda ocasião de dizer hoje que o Governo está a patrocinar um conjunto de casos. De facto, para o rei dos casos e dos casinhos, querer procurar numa narrativa desesperada do ponto de vista política e associar o Governo, que começou a governar e bem há 15 dias, cuja principal medida e foco foi a redução dos impostos, sobre as pessoas que trabalham, é de quem está desnorteado."
É que, recorde-se, o PS defendeu esta terça-feira que a exoneração da provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tem como único objetivo colocar no cargo "pessoas mais politicamente alinhadas e domesticáveis" pelo Governo do PSD.
"O Governo está a criar um conjunto de casos que tem como único fundamento substituir pessoas que sejam mais politicamente alinhadas, mais domesticáveis pelo Governo PSD", sustentou o vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS, Tiago Barbosa Ribeiro, numa declaração aos jornalistas na sede dos socialistas no Porto.
Para o deputado socialista, é "isso que está em causa nestas e noutras atitudes, como foi o caso da direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS)".
Saliente-se que o Governo acusou, na segunda-feira, a provedora exonerada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e os elementos da Mesa de "atuações gravemente negligentes" que afetaram a gestão da instituição, justificando desse modo a exoneração.
De acordo com o despacho publicado em Diário da República (DR), que, no caso de Ana Jorge é assinado pelo primeiro-ministro Luís Montenegro e pela ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Maria do Rosário Ramalho, toda a atual equipa de gestão da SCML terminou as funções a partir de ontem.
Ana Jorge tomou posse a 2 de maio de 2023, escolhida pelo anterior Governo socialista de António Costa, e herdou uma instituição com graves dificuldades financeiras, depois dos anos de pandemia e de um processo de internacionalização dos jogos sociais, levado a cabo pela administração do provedor Edmundo Martinho, que poderá ter causado prejuízos na ordem dos 50 milhões de euros.
Leia Também: Santa Casa. Governo acusa Ana Jorge de "atuações gravemente negligentes"