Para José Traquina, os estudos têm-se sucedido e está-se "nesta certeza de que é necessário um melhor equilíbrio", pelo que se requer "a quem tem responsabilidades na governação e na gestão do país e das instituições (...) que o equilíbrio de rendimentos entre os portugueses seja melhor e não tão distanciado".
"Vivemos, porventura, num dos países da Europa onde a diferença de rendimento das pessoas é maior, e isso gera dificuldades", as quais, diz, "não se têm atenuado".
Segundo o presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e da Mobilidade Humana, "cresceu-se em estabilidade económica para o país na imagem internacional, mas no bem-estar social isso não tem correspondência, o que levanta questões de governação, de como é que as coisas se orientam".
O bispo José Traquina alerta, em entrevista à agência Lusa, para a necessidade de ser feita uma leitura da situação global dos desequilíbrios nos rendimentos em Portugal, para encontrar soluções consistentes e "não apenas estar a ajudar pessoas, mas [que permanecem] sempre numa [situação de] dependência sem saírem daquela situação".
O prelado não esconde o seu incómodo quando, ao analisar a situação portuguesa, se verifica que "há pessoas que são pobres - dentro daquele número de dois milhões de pessoas em risco de pobreza ou em pobreza, ou mesmo em pobreza severa -- [mas] que trabalham, que têm rendimentos, mas esses rendimentos são insuficientes para as despesas da família, para as despesas das pessoas".
Desde logo, defende que "se deve valorizar o trabalho, valorizar quem trabalha", por forma a aumentar-lhes os rendimentos.
As situações de desequilíbrio social no país têm levado a um aumento da procura de ajuda junto de instituições de solidariedade da Igreja -- como a Cáritas, Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) ou Misericórdias -, o que "cria dificuldades", levando aqueles organismos a ficarem sem possibilidades de acorrer a tudo.
No caso das IPSS, as dificuldades advêm, também, da impossibilidade de os utentes, ou seus familiares, "a certa altura, não terem capacidade de corresponder àquilo que é a sua comparticipação" nas despesas de uma pessoa que está numa instituição "e que tem um custo calculado".
"Um estudo da Universidade Católica do Porto calculou com exatidão que a comparticipação do Estado era de 38% da despesa de uma pessoa numa instituição. Aquilo que senhora ministra do Governo anterior [Ana Mendes Godinho] tinha em mente era que a comparticipação do Estado chegasse aos 50%", lembra José Traquina, reconhecendo que, mesmo que tivesse ido em frente esta ideia da ex-governante, "as pessoas não têm condições, por si, de colaborar com os outros 50%".
Esta situação leva as instituições a procurarem apoios na sociedade, o que não impede que "muitas cheguem a novembro [de cada ano] numa aflição enorme, sem saber como é que vão pagar o subsídio de Natal, como é que vai ser o final do ano".
"Às vezes acontece que lá vem, à última hora, uma decisão do Ministério do Trabalho e da Segurança Social a despachar então uma fração, um apoio, uma decisão que deixa respirar e consegue-se pagar aos funcionários, aos colaboradores da instituição", diz o bispo.
Neste capítulo, o presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social afirma que, "às vezes, as dificuldades são porque a instituição é muito grande, outras vezes porque é muito pequena. Se é muito pequena, não tem escala para resolver, e às vezes é mais difícil. E também é diferente se uma instituição está no interior do país ou está numa grande cidade do país. E as comparticipações do Estado são iguais, mas a realidade não é igual".
E esta é mais uma razão para defender que o Governo, seja ele qual for, "tem de ter o desígnio do equilíbrio da sociedade" como um dos seus objetivos.
"Quer [o Governo] uma sociedade que, efetivamente, quer fazer justiça e quer uma evolução global do país, de todas as pessoas, ou quer simplesmente ter uma economia elevada, estável ou a evoluir, mas deixando para trás sempre mais pessoas pobres?", questiona o bispo, sublinhando que "há académicos, existem pessoas preparadas, estudos feitos, sabe-se identificar os problemas e até há gente que sabe academicamente apontar soluções".
Portanto, para José Traquina, "o Governo pode deitar a mão a pessoas formadas em determinada matéria, mesmo ligadas à economia, para responder a estas situações, pessoas preparadas", nunca esquecendo que "nem todas as pessoas nasceram com a mesma capacidade de desenvolvimento, mas também têm direito a viver".
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