O Centro de Informação Antivenenos (CIAV) do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) recebeu, em 2023, mais de 27 mil chamadas referentes a situações de exposição humana a produtos tóxicos, 10 mil dos quais intencionais.
De acordo com um comunicado enviado pelo INEM ao Notícias ao Minuto esta terça-feira, o serviço recebeu 27.049 chamadas telefónicas o ano passado, um número superior aos anos pandémicos.
A maioria (94,1%) foi relativa à exposição de pelo menos um produto tóxico. As restantes chamadas (5,9%) relacionaram-se com pedidos de informação na área da toxicologia, emissão de pareceres técnicos, disponibilização de dados estatísticos, entre outros.
No momento de contacto com o CIAV, 12.927 (51,52%) dos casos apresentavam sintomas e, destes, 73% apresentavam sintomas ligeiros, decorrentes da baixa toxicidade do produto em causa, exposição a dose reduzida e/ou contacto precoce com o CIAV relativamente ao momento da exposição.
Em 44,7% das chamadas recebidas, e com base no aconselhamento prestado pelo CIAV, foi possível controlar a situação no local, evitando o recurso a uma Unidade de Saúde.
Maioria das ocorrências envolveram pessoas do sexo feminino
Entre as 25.091 situações de exposição humana a tóxicos, 8.619 (34,3%) envolveram crianças sendo que, entre estas, 61,9% corresponderam a crianças com menos de 5 anos de idade. 16.472 (65,7%) ocorrências envolveram adultos, 63,6% dos quais do sexo feminino.
No que respeita às circunstâncias da exposição, verifica-se que mais de 10 mil situações reportaram uma exposição intencional, 68,8% das quais em utentes do sexo feminino, com predominância na faixa etária entre os 20 e os 49 anos.
20% das chamadas relacionadas com "erro terapêutico"
Já o "erro terapêutico", como lhe chama o INEM, traduzido por dose incorreta, via de administração incorreta, administração à pessoa errada ou administração do fármaco errado, representa cerca de 20% dos casos e com maior prevalência acima dos 70 anos de idade.
Quanto à faixa etária entre o 1 e os 4 anos de idade, os registos demostram que a grande maioria das exposições foram acidentais.
Na esmagadora maioria das chamadas recebidas no CIAV, a exposição aos tóxicos ocorreu por via digestiva, correspondente a 83,8% do total.
16.302 das situações envolveram medicamentos
Entre as 25.091 situações de exposição humana a tóxicos, 16.302 (64,97%) envolveram medicamentos, 10.876 em adultos e 5.426 em crianças. Os registos mostram que 63,25% das ocorrências envolveram medicamentos dirigidos ao Sistema Nervoso Central.
O grupo dos ansiolíticos/sedativos/hipnóticos é o mais representativo, com 45,23%, seguindo-se os antidepressivos (32,1%) e os antipsicóticos (22,2%).
Entre a exposição a produtos de utilização doméstica, as lixívias e os detergentes mantêm-se como os mais representativos do grupo dos produtos químicos.
No grupo dos Biocidas, continuou a verificar-se o decréscimo de consultas envolvendo desinfetantes, consequência direta do término da pandemia por SARS-CoV-2. No que diz respeito às substâncias de abuso e álcool, a estatística revela um ligeiro aumento relativamente ao ano anterior, com 1.648 adultos e 173 crianças a serem expostos a este tipo de produtos.
Quanto à exposição a animais, plantas ou cogumelos, o grupo dos animais é o mais representativo com 487 casos, destacando-se a mordedura de lacrau com 122 casos. Entre as 91 situações resultantes da ingestão de cogumelos, apenas 2 casos apresentaram um quadro clínico grave.
287 pedidos de ajuda relacionados com cães. 59 com gatos
O CIAV dá igualmente resposta a intoxicações em animais, as quais, em 2023, representaram 1,39% das ocorrências. Nesse ano, o CIAV prestou esclarecimentos a 287 pedidos de auxílio/informação envolvendo cães, 59 envolvendo gatos, as restantes outros animais. Entre os tóxicos envolvidos, os raticidas, com 61 casos, e os inseticidas, com 60, foram os mais representativos.
Mais de metade da atividade do CIAV tem como origem os distritos de Lisboa (29,14%) e Porto (24,42%). Verificou-se uma ligeira prevalência de ocorrências nos meses da primavera e verão, particularmente entre maio e agosto. Diariamente, a maior concentração de consultas ocorre ao final do dia, entre as 18h e as 00h.
Recorde-se que o CIAV é o único centro de intoxicações existente em Portugal, disponível através do número telefónico gratuito 800 250 250, 24 horas por dia, todos os dias do ano. Médicos com formação específica na área da toxicologia prestam apoio a profissionais de saúde e ao público em geral em situações relacionadas com a exposição a tóxicos, medidas de prevenção ou qualquer informação na área da toxicologia.
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