Costa considera essencial derrota da Rússia e reforço da autonomia da UE

O ex-primeiro-ministro António Costa considerou hoje essencial para o futuro da União Europeia a derrota militar da Rússia na Ucrânia e um reforço da autonomia estratégia da Europa, mas sem recurso a políticas protecionistas.

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Lusa
08/05/2024 20:11 ‧ 08/05/2024 por Lusa

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Ucrânia

Estas posições foram defendidas por António Costa na apresentação do livro de Bernardo Pires de Lima, investigador e consultor da Casa Civil do Presidente da República, intitulado "O ano zero da nova Europa", durante uma sessão que se realizou no Centro Cultural de Belém.

Com o Presidente da República sentado na primeira fila da plateia, o ex-líder do executivo e do PS aproveitou uma passagem do livro de Bernardo Pires de Lima, para, com humor, voltar a referir ao "otimismo irritante" que lhe foi apontado por Marcelo Rebelo de Sousa logo em 2016, durante o seu primeiro de três governos socialistas.

"Fiquei particularmente satisfeito por verificar que o autor defende que o otimismo da vontade se deve sobrepor ao pessimismo da razão", comentou António Costa.

Na sua intervenção, o ex-primeiro-ministro sustentou como tese central a ideia de que a invasão militar russa da Ucrânia coloca uma questão sobre os termos da segurança futura da Europa. "A derrota da Rússia é difícil, mas é essencial", advogou, antes de se referir à "tripla missão da União Europeia" perante este desafio.

António Costa apontou então que a União Europeia, para além das suas políticas tradicionais, tem de mobilizar recursos para uma política de defesa comum. E que o novo alargamento da União Europeia se fará desta vez, não por razões de consolidação de processos de transição democrática, como aconteceu até agora, mas por razões de proteção face à ameaça da Rússia.

Este novo alargamento, assinalou ainda o ex-primeiro-ministro, vai deslocar para leste o centro de gravidade da União Europeia, ganhando maior relevância o eixo Varsóvia/Kiev, e a Ucrânia será o quinto pais da União Europeia em população e o mais extenso em área territorial.

Ainda de acordo com a perspetiva do anterior líder do executivo, a União Europeia terá de redefinir as suas relações com os Estados Unidos, advertindo neste ponto para eventuais efeitos negativos que poderão resultar das eleições presidenciais norte-americanas de novembro próximo, e contrariar uma aproximação entre a China e a Rússia no plano político.

António Costa deixou ainda outra advertência: Os Estados-membros terão de olhar com outra atenção para o artigo do Tratado da União Europeia referente à obrigação de auxílio se um dos países deste bloco europeu for alvo de uma agressão externa. Ou seja, os Estados-membros da União Europeia terão de olhar para este artigo tal como os Estados-membros da NATO têm encarado o artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte.

Na sua intervenção, o ex-primeiro-ministro considerou ainda fundamental que a União Europeia reforce a sua autonomia estratégica ao nível global, falando aqui nos perigos de disrupção existentes em cadeias de abastecimento excessivamente longas. Como exemplo, apontou o que aconteceu com a crise de abastecimento de produtos essenciais nos anos da pandemia da covid-19.

Essa autonomia estratégica da União Europeia, na perspetiva de António Costa, deve basear-se numa aposta ao nível das infraestruturas e na reindustrialização, mas sem qualquer recurso ao protecionismo económico.

E apresentou uma razão base para evitar o protecionismo: "A União Europeia só tem 5% das matérias-primas, mas consome 20% das matérias-primas mundiais", concluiu, com ex-ministros do seu Governo, como Fernando Medina e Duarte Cordeiro, a ouvirem-no.

Leia Também: Rangel critica "anomalia" de Assuntos Europeus tutelados por Costa

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