Um homem foi encontrado apenas de roupa interior e de bata hospitalar após ter recebido alta do Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, no final de abril. O caso foi denunciado por uma residente da freguesia da Ajuda na rede social Facebook, que deu conta da "falta de dignidade e indiferença pelo outro" demonstrada pela unidade. Contudo, a instituição garantiu que ofereceu "vestuário adequado e alimentação" ao utente, cuidados que terão sido recusados.
"Hoje de manhã, quando fui levar os miúdos à escola, andava este homem no meio do trânsito, acabadinho de sair do Hospital de São Francisco Xavier, de cuecas, com esta bata e pulseira amarela, em plena hora de ponta. Ninguém o abordou para saber porque estava assim na rua, se tinha fugido do hospital, se precisava de alguma coisa... Indiferença total…", escreveu Luísa Faro, naquela rede social, no passado dia 30 de abril.
A mulher detalhou que, ao deparar-se com o homem, parou o veículo em que seguia e aproximou-se. Bruno contou-lhe, então, que tinha recebido alta hospitalar, o que a residente confirmou junto da entidade.
"O Bruno não tem intestino, vive com um saco. Como tinha a roupa toda suja, no São Francisco Xavier deram-lhe alta assim, tal e qual, sem umas calças... Num hospital onde existe um banco de doação de roupa... […] Levei-o a casa e antes passámos pelo McDrive; pediu-me para comer, estava cheio de fome", complementou.
Contactado pelo Notícias ao Minuto, o Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde de Lisboa Ocidental (ULSLO) confirmou que Bruno foi admitido no Serviço de Urgência Geral (SUG) da instituição e, após ter sido avaliado pela equipa médica, aceitou o plano de cuidados propostos.
"Durante a permanência no Serviço de Urgência Geral, o doente recebeu alimentação e cuidados de higiene adequados. No dia seguinte à admissão no SUG, o doente expressou recusa em aderir ao plano de cuidados proposto no dia anterior. Antes de sair, o utente estava consciente e orientado no tempo e no espaço e, como a qualquer utente que acorre ao Serviço de Urgência Geral, foi-lhe oferecido vestuário adequado e alimentação, tendo sido recusado pelo mesmo", adiantou.
O hospital disse ainda que o homem "é acompanhado na consulta externa da ULSLO", mas "apresenta várias faltas a consultas agendadas".
"Os nossos profissionais de saúde atuam de forma concertada, assegurando, para além dos cuidados de saúde, os cuidados básicos de nutrição, vestuário e higiene a todos os nossos doentes", assegurou a entidade.
Uma moradora da freguesia da Ajuda relatou à TVI/CNN Portugal que Bruno vive num vão de escadas no prédio de uma tia. Como está "completamente descompensado", despeja o saco no local, sendo também frequente surgir tapado "com uma manta, com um lençol". Será, além disso, esquizofrénico, tendo necessidade de "levar uma injeção".
Conforme contou a Luísa Faro, Bruno esteve detido por tráfico de estupefacientes, mas "não faz mal a ninguém". O homem terá saído da prisão há dois meses, tendo levado a cabo alguns roubos a viaturas para comprar comida.
A junta de freguesia garantiu àquele canal televisivo estar a acompanhar o caso, tendo informado "a Vitae, uma associação que intervém junto da população sem-abrigo" e a "senhora delegada de saúde, que em resposta emitiu dois mandados de condução ao Hospital de São Francisco Xavier".
Ainda assim, o homem continua alegadamente a abrigar-se no prédio, sem prestação dos cuidados físicos e psicológicos de que necessita.
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