Livre tenta travar cisões (e crescimento já faz sonhar com governação)
No 14.º Congresso do Livre o partido mostrou que quer consolidar o crescimento das últimas legislativas e até preparar-se para "ser Governo", ao mesmo tempo que tenta travar cisões internas que o possam desviar do caminho.
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Política Congresso
Embalado pela conquista de um grupo parlamentar de quatro deputados na Assembleia da República, o melhor resultado na história do partido, o Livre reuniu este fim de semana o seu 14.º Congresso, no pavilhão municipal da Costa de Caparica, concelho de Almada, num clima de felicidade mas também de notórias "dores de crescimento".
Logo no primeiro dia, o deputado e fundador do Livre elencou "as missões" para o futuro: o partido tem que estar "pronto para Governar" no próximo ciclo, à esquerda, passar de "médio a grande" e funcionar como "porta de saída" para os eleitores que querem combater a extrema-direita.
Para isto, o partido precisa de mostrar que além de "fiável" -- tendo regressado ao parlamento depois de ultrapassar a polémica com Joacine Katar Moreira e conquistado o grupo parlamentar -- é também "viável", sem deixar que as divergências sejam "o assunto principal", alertou.
Numa tentativa de virar o discurso para fora, Tavares lançou 'farpas' a vários adversários políticos, chegando a acusar o executivo PSD/CDS-PP de "desorientação ética e moral" na postura face à extrema-direita.
A reunião magna terminou com a sala a cantar "Grândola, Vila Morena", canção de José Afonso, que foi senha da revolução do 25 de Abril, com os convidados do PS, BE, e PCP a acompanharem o coro. A delegação da IL permaneceu sentada.
O crescimento do partido -- notório na estrutura de palco e produção do congresso - foi abordado em diversas intervenções, nomeadamente pelo candidato às europeias e deputado municipal em Oeiras, Tomás Cardoso Pereira, que clamou perante uma plateia entusiasmada que "o Livre já não é um partido pequeno" e sobreviveu a várias mortes anunciadas.
Mas também foram deixados alertas de que esta onda positiva tem que ser vista com "responsabilidade" e cautela, com referências ao facto de o PAN ter elegido quatro deputados em 2019, mas nas legislativas de 2022 ter voltado à representação única.
O congresso esteve reunido para eleger os novos órgãos nacionais para o mandato 2024-2026 e a lista ao Grupo de Contacto (direção) liderada por Isabel Mendes Lopes e integrada por Rui Tavares, bem como o deputado Jorge Pinto, conseguiu conquistar 61% dos votos, correspondentes a 10 dos 15 lugares.
Os restantes foram atribuídos à lista B, que ficou com três, e à lista C, que garantiu dois, após uma reunião magna na qual se ouviu que união não pode significar "diluição", pedidos de abertura e pluralismo e foi defendido o fim da "era da glorificação de personalidades".
A um processo de primárias abertas que geraram polémica na escolha do cabeça de lista, Francisco Paupério, juntaram-se críticas antigas de centralização de protagonismo na figura de Rui Tavares e agora no grupo parlamentar eleito.
Mesmo admitindo melhorias nos estatutos internos de um partido que assinalou recentemente dez anos, Rui Tavares sublinhou várias vezes a democraticidade dos processos internos do Livre, e o seu caráter único, como as primárias abertas ou a eleição dos 50 membros para a Assembleia, órgão máximo entre congressos, que se apresentam uninominalmente "sem pedir autorização a ninguém".
Quanto às primárias, foi aprovada uma moção específica para a criação de um grupo de trabalho sobre o tema e vários dirigentes admitiram que é necessário melhorá-las, sem abdicar do princípio de abertura à sociedade.
Interrogado sobre a sua confiança política no cabeça de lista às europeias, ou até nos discursos perante os congressistas, Rui Tavares manifestou-a mas preferiu sempre falar numa "equipa", com Francisco Paupério a colocar como fasquia a conquista de dois eurodeputados em junho.
O programa eleitoral para as eleições europeias foi aprovado, sem votos contra, mas as medidas não foram debatidas pelos membros do Livre, numa discussão que acabou dominada pelo conflito israelo-palestiniano, exigências de cessar-fogo e a divergência sobre uma proposta de emenda que defendia a condenação explícita do Hamas, que acabou alterada.
Ao capítulo sobre política externa, foi acrescentada no texto a necessidade de ajudar a Ucrânia a defender-se através de "meios militares adequados".
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