"Portugal não é só mar, oceanos, litorais. Portugal não é só interiores, mais ou menos profundos. Portugal não é só metrópoles, cidades, capitais de distritos, sedes de dioceses. Portugal não é só vilas, aldeias, lugares, mais ou menos ermos", começa por dizer Marcelo Rebelo de Sousa, no início do seu discurso no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades.
"Portugal não é só história, cultura, ciência dos letrados que por cá ou lá fora levam longe o nosso nome e a nossa obra. Portugal não é só a memória das glórias, das euforias, das fortunas de quase nove séculos. Portugal não é só a memória dos dramas, das tragédias. Portugal é tudo isso e um só", prossegue, frisando que o 10 de Junho, "ao celebrar Portugal, celebra-o todo. Uno, na sua diversidade".
Prosseguindo, Marcelo evoca com "respeito" e "saudade" as vítimas da tragédia dos incêndios de 2017.
“Desengane-se quem olha para nós, cá dentro e lá fora, e pensa que cedemos ao primeiro contratempo, que nós baqueamos à primeira tragédia”, continua, fazendo também referência aos antigos combatentes.
“Assumimo-nos como somos. Sem complexos. Que este 10 de junho queira dizer: tragédias como a de 2017, nunca mais”, diz Marcelo, defendendo um “futuro mais igual e menos discriminatório para todos os portugueses”.
Este 10 de Junho "evoca o passado, mas quer sobretudo dizer futuro, reconstrução, novos jovens, novos residentes, nacionais e estrangeiros, novos sonhos" para estes territórios.
As populações que aqui vivem não podem ser vistas como "menos portugueses, menos cidadãos, menos cultos, na cultura da vida, como na cultura das letras, menos portadores de esperança", defendeu.
Na sua intervenção, o chefe de Estado e comandante supremo das Forças Armadas descreveu os portugueses como um povo orgulhoso do passado, combatente, que supera adversidades e tragédias.
A este propósito, fez um elogio aos atuais e antigos militares portugueses: "Que o digam os nossos antigos combatentes, os nossos soldados, os de ontem como os de hoje, os do futuro, tantos aqui presentes, garantes da nossa soberania, da nossa soberania, da nossa liberdade, da nossa vocação universal".
"Portugal é assim. Portugal é assim aqui em Pedrógão Grande, em Castanheira de Pera, em Figueiró dos Vinhos. Mas também em Leiria, em Coimbra, e mais as dezenas de concelhos devastados em 2017, e renascidos e a quererem renascer, sem autocompaixões, com exigência, com coragem, com ambição", prosseguiu.
Segundo o chefe de Estado, Camões "teve um pouco de tudo dos diversos Portugais" e deve ser uma inspiração "até no instante final da sua vida, quando, pobre, ignorado, ostracizado, esquecido por quase todos, se imagina que temeu que, com a sua partida, pudesse partir também a independência" do país.
"Portugal restauraria a sua independência, Camões seria reconhecido e admirado e o nosso caminho secular continuaria até hoje", salientou.
Note-se que este ano, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, decidiu assinalar o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em três concelhos do distrito de Leiria afetados pelos incêndios de 2017: Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera.
As comemorações oficiais do 10 de Junho, que se iniciaram no domingo, dia de eleições para o Parlamento Europeu, irão passar ainda pela Universidade de Coimbra, onde terá hoje lugar a cerimónia inaugural das celebrações dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões.
Depois, entre terça e quarta-feira, irão estender-se à Suíça, com a participação também do primeiro-ministro, Luís Montenegro.
[Notícia atualizada às 14h07]
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