Esta é a primeira formação da Academia Mais Integração, iniciativa da Câmara do Fundão, Universidade da Beira Interior e Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), criada para formar técnicos com responsabilidades na integração de migrantes, não apenas nos vários serviços da administração pública, como em outros organismos que trabalham no acolhimento de quem chega de outros países.
A coordenadora da Academia Mais Integração, Cláudia Pereira, ex-secretária de Estado das Migrações, explicou, em declarações à agência Lusa, que a formação incide numa componente científica, numa componente político/legislativa e numa abordagem às teorias de integração.
Os 50 primeiros formandos vão estar sete dias no Centro para as Migrações do Fundão, no distrito de Castelo Branco, para conviverem de forma imersiva. O curso está estruturado para proporcionar a interação entre profissionais de diferentes institutos.
As manhãs serão dedicadas às aulas teórico-práticas e as tardes ao trabalho colaborativo, com visitas a empresas onde trabalham migrantes.
Prevê-se a criação de grupos com formandos de diferentes organismos, para que partilhem as suas dificuldades, manifestem dúvidas sobre alterações legislativas, discutam a forma como cada um consegue resolver problemas, percebam a melhor metodologia para chegar a informação relevante, a forma como se articular com os parceiros e tornar o atendimento mais ágil e eficaz.
"Sabendo que por vezes há desconhecimento, ou não há uma harmonização de procedimentos, esta é uma formação para os capacitar, aprender com as suas dificuldades, tentando arranjar soluções. Queremos proporcionar que trabalhem mais em rede, para que os serviços possam integrar da melhor forma", sublinhou Cláudia Pereira, em declarações à Lusa.
A coordenadora da Academia Mais Integração referiu que, embora Portugal esteja longe de ser dos países europeus que mais migrantes recebe, tal como aconteceu em outros países, aumentou o número de imigrantes e a diversidade de nacionalidades, um total de 190.
A nova realidade implica desafios de comunicação e a necessidade de desenvolver metodologias de informação, nomeadamente para lidar com as alterações legislativas, para "remover obstáculos" e saber como dar uma resposta mais rápida e integrada.
A responsável referiu que "quase todos os serviços, seja a Segurança Social, os centros de emprego e formação profissional, a Autoridade Tributária, têm de lidar com pessoas migrantes".
"É a administração pública que nós pretendemos capacitar, porque existe a lacuna de não haver uma formação específica de migrações", acentuou Cláudia Pereira, que acrescentou tratar-se de um curso também pensado para autarquias e organizações da sociedade civil que trabalham na área.
Além de existir a necessidade de reforçar conhecimentos e novas capacidades relacionais, pretende-se que os diferentes organismos trabalhem melhor em proximidade.
"A administração pública já trabalha em rede em alguns assuntos, mas não tanto nas questões relacionadas com migrantes", frisou Cláudia Pereira.
À noite, os formandos têm conferências com vários oradores sobre a temática e no dia 18 o convidado é Leitão Amaro, ministro da Presidência.
Segundo Cláudia Pereira, a formação realiza-se no Fundão por ter sido uma iniciativa sugerida pelo autarca local e por o município ter sido distinguido em 2023 como uma das oito Capitais Europeias da Inclusão e da Diversidade, pelas suas "boas práticas integradoras com migrantes e refugiados".
As primeiras 50 vagas esgotaram, está previsto um novo curso, de 80 horas, para o outono, e estão planeados quatro grupos anuais.
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