O Conselho Europeu reuniu-se, esta segunda-feira, num jantar para discutir os seus cargos de topo. As previsões mais otimistas faziam querer que Costa poderia acabar o dia com a certeza de que seria o próximo líder europeu. Porém, o encontro culminou sem a 'sobremesa' que todos aguardavam.
No encontro, esperava-se que fosse discutido o pacote sobre as lideranças institucionais (que inclui ainda a presidência do Parlamento Europeu, embora não oficialmente).
Os nomes de que mais se falam em Bruxelas são os do ex-primeiro-ministro português António Costa para o Conselho Europeu, de Ursula von der Leyen para um novo mandato à frente da Comissão Europeia, da primeira-ministra da Estónia para Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança e de Roberta Metsola para uma reeleição na liderança do Parlamento Europeu.
O jantar
Cerca das 21h30 (hora local, menos uma em Lisboa) e com uma hora de atraso, começou oficialmente o jantar informal dos líderes da UE, no qual se discutiram os cargos de topo no próximo ciclo institucional, entre 2024 e 2029, uma semana depois das eleições europeias, que deram vitória ao Partido Popular Europeu (PPE), seguido dos Socialistas e Democratas (S&D) e dos liberais do Renovar a Europa.
Também o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, presente no encontro, disse à entrada que esperava um acordo de princípio. Posição que parecia ser comum a outros líderes europeus.
"O nome de Costa está muito consolidado, mesmo que alguns líderes possam transmitir algumas preocupações. Costa é um candidato ótimo porque, desde logo, assegura um equilíbrio regional que é essencial preservar e pela sua personalidade e experiência", referiu fonte europeia à Lusa.
Quem apoia e quem 'torce o nariz'
O antigo primeiro-ministro António Costa pode estar a caminho da presidência do Conselho Europeu, mas há quem em Bruxelas tenha dúvidas sobre a sua nomeação.
A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederikse, que rejeitou, esta segunda-feira, que fosse assumir o cargo de presidente do Conselho Europeu, deixou elogios ao português. Segundo o Politico, a dinamarquesa referiu-se ao ex-primeiro-ministro português como "um bom colega".
Dos Países Baixos, Mark Rutte, o chefe de Governo cessante, qualificou o ex-líder socialista português como "um candidato muito bom", salientando que o apoio de Lisboa a Costa é "muito importante".
No domingo, em entrevista ao jornal El Español, também o antigo presidente da Comissão Europeia Durão Barroso afirmou que António Costa é o "melhor posicionado" para presidir ao Conselho Europeu e suceder ao belga Charles Michel, por ser quem "gera mais consenso" dentro e fora da família socialista.
O belga, aliás, ao final do jantar de ontem, vincou que as negociações vão "na direção certa"...embora não seja clara qual é essa direção.
Por outro lado, uma nota dissonante chegou pela voz do líder eslovaco, Peter Pellegrini, que referiu a expulsão do seu partido SMER do grupo S&D, decisão em que Costa terá sido "um dos políticos mais ativos".
Donald Tusk, chefe do governo da Polónia, por sua vez, falou nas capacidades de António Costa para assumir um cargo Europeu, mas defendeu que eram precisos esclarecimentos no âmbito da Operação Influencer.
Um "passo importante" e veredito final na próxima semana
O jantar em Bruxelas culminou sem acordos, mas os envolvidos foram unanimes em considerar que foram dados passos importantes durante este encontro. Apesar sem o consenso entre todos os 27 países, sabe que haverá um consenso generalizado. Charles Michel afirmou mesmo que uma decisão deve ser tomada na próxima semana.
"Penso que é nosso dever coletivo tomar uma decisão até ao final de junho - já o afirmei várias vezes publicamente e não mudei de opinião. Os 27 líderes têm de trabalhar arduamente para garantir que haverá um acordo sobre esta decisão [de cargos de topo] e sobre a agenda estratégica", afirmou Charles Michel.
O ainda presidente do Conselho Europeu disse ter sido claro desde o início de que não havia um acordo, até porque o objetivo "não era tomar uma decisão". "Esta conversa de hoje foi um passo útil para preparar o Conselho Europeu, mas a decisão será tomada [...] na próxima semana", reforçou.
António Costa, que se demitiu em novembro na sequência de investigações judiciais, continua a ser apontado para suceder ao belga Charles Michel (no cargo desde 2019) na liderança do Conselho Europeu, numa nomeação que é feita pelos líderes europeus, que decidem por maioria qualificada (55% dos 27 Estados-membros, que representem 65% da população total).
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