A semana começou com a história de uma mulher que se dirigiu ao Hospital das Caldas da Rainha com o feto morto num saco. Enquanto o Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde (ULS) do Oeste, responsável por esta unidade, nega que a assistência tenha sido recusada, a versão da utente é diferente.
A mulher terá ido pelos seus próprios meios até ao hospital, após ter sofrido um aborto em casa - ao chegar ao hospital, a perder sangue e com o feto num saco, a sua entrada terá sido recusada.
Enquanto a situação é aclarada, por forma a perceber o que aconteceu - o IGAS já abriu um inquérito ao caso -, damos conta do que se passa nas urgências de Ginecologia e Obstetrícia em todo o país. De acordo com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), que disponibiliza o mapa das urgências abertas, esta segunda-feira, há cinco serviços de urgências encerrados.
Que serviços estão encerrados?
A Urgência de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital Distrital das Caldas da Rainha está esta segunda-feira encerrado. A urgência mais próxima deverá ser a de Coimbra, que fica a cerca de 70 km. No caso da utente referida acima, a mulher só terá sido atendida depois de os bombeiros terem insistido que levá-la para Coimbra seria impossível, dado que a viagem demoraria mais do que uma hora.
No mesmo distrito, Leiria, há ainda outro hospital que tem as portas deste tipo de urgência fechadas no início da semana - trata-se do Hospital de Santo André. Neste caso, de acordo com a SIC Notícias, todas as mulheres com partos programados estão a ser encaminhadas para o Centro Materno-Infantil do Norte, no Porto, a 200 km de distância.
Os restantes três hospitais que veem as suas urgências fechadas localizam-se mais a sul. O Hospital de São Bernardo e o Hospital Garcia de Orta, em Setúbal e em Almada, respetivamente, têm as suas urgências de Obstetrícia e Ginecologia encerradas. Já no centro de Lisboa, o Hospital de Santa Maria vê também a sua urgência de Obstetrícia (e não de Ginecologia) encerrada.
Segundo mesmo plano disponibilizado pelo SNS, há ainda urgências referenciadas, "que se encontram reservadas às urgências internas e aos casos referenciados pelo CODU/ INEM e pela linha SNS24. Pode consultar a lista aqui.
Na sexta-feira, a Ordem dos Médicos alertou para a gravidade de se encerrarem várias urgências, depois de informação publicada no portal do SNS a dar conta do encerramento de mais de dez serviços durante o fim de semana.
O que diz o Governo?
Ao Notícias ao Minuto, o Ministério da Saúde confirmou que a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde abriu um inquérito à situação da grávida nas Caldas da Rainha. Apesar de a tutela garantir que o Executivo está a "acompanhar a situação", o chefe de Governo, Luís Montenegro, ainda não se pronunciou sobre a situação.
A inexistência - para já, de uma declaração por parte do primeiro-ministro - já fez gerar algumas críticas, nomeadamente, por parte da bloquista Marisa Matias.
"O PM [primeiro-ministro] tem a obrigação de apresentar uma solução para este problema já que a ministra da Saúde se revelou incapaz de o fazer. Ontem Luís Montenegro escudou-se a falar do problema publicamente. Exige-se que, à luz da gravidade dos acontecimentos, que o faça, com urgência", referiu, entre outras declarações.
A situação das urgências encerradas no Verão conheceu hoje um episódio, a confirmar-se as notícias, de extrema gravidade. As responsabilidades devem ser esclarecidas.
— Marisa Matias (@mmatias_) August 5, 2024
Uma grávida viu ser-lhe negada a assistência no Hospital das Caldas da Rainha após ter dado a luz um feto morto.
Já esta segunda-feira, o Partido Socialista (PS) informou que iria reunir com as Unidades Locais de Saúde para avaliar encerramentos nas urgências de Ginecologia e Obstetrícia, tendo o primeiro encontro marcado já para terça-feira, 6 de agosto. A reunião acontecerá com os responsáveis pela Unidade de Saúde Local de Santa Maria e contará com a presença dos deputados eleitos pelo círculo de Lisboa.
"Os constantes encerramentos dos serviços de Ginecologia e Obstetrícia e a instabilidade generalizada no Serviço Nacional de Saúde são a prova de que o Plano de Emergência e Transformação na Saúde anunciado pelo Governo da AD está a falhar. A situação, agravada pelo afastamento de dirigentes reconhecidos do SNS e pela interrupção das reformas em curso, tem-se traduzido num sério prejuízo para os utentes", escrevem os deputados do PS numa nota enviada ao Notícias ao Minuto.
[Notícia atualizada às 19h29]
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