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Transição geracional é o "grande desafio" que Timor-Leste tem pela frente

O maior desafio que Timor-Leste tem pela frente são os termos e quando os seus atuais dirigentes políticos, no poder e na oposição, cederão o lugar a uma geração mais nova, cumprindo a transição geracional sucessivamente adiada, segundo várias fontes ouvidas pela Lusa.

Transição geracional é o "grande desafio" que Timor-Leste tem pela frente
Notícias ao Minuto

08:25 - 25/08/24 por Lusa

País Timor/25 anos

Em declarações à Lusa, Ana Gomes, que teve um papel importante no processo de independência de Timor-Leste enquanto embaixadora de Portugal na Indonésia, este é o "grande desafio" de Timor-Leste.

 

"Penso que em próximas eleições já se vai ver essa mudança geracional", considera Ana Gomes, que recorda haver "muita gente capacitada, que até já teve experiência de Governo".

"Acho que isso vai ser inevitável e penso que estará bem presente na cabeça dos atuais líderes: Presidente, primeiro-ministro, líder do principal partido da oposição neste momento, que é a Fretilin, que de facto este é o 'timing' da evolução e da mudança geracional", acrescenta Ana Gomes.

O constitucionalista Pedro Bacelar de Vasconcelos, antigo conselheiro da ONU junto da Presidência timorense, durante o mandato de Xanana Gusmão, salienta à Lusa que a transição é "inevitável".

Reconhece, todavia, que será "uma transição difícil porque se confronta com dificuldades que, no fundo, não são ultrapassadas numa geração. Essas competências ainda não estão suficientemente desenvolvidas em Timor", afirma.

"Temos de reconhecer que os desafios que os dirigentes timorenses enfrentam são realmente de uma dimensão inusitada", vinca.

O investigador Rui Feijó, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, recua no tempo e diz à Lusa que os atuais dirigentes timorenses estão na primeira linha da direção política e de representação há cerca de 50 anos.

"Em Timor o que você tem é que o [atual Presidente José] Ramos-Horta foi um fundador da Fretilin. O [atual líder da oposição, Mari] Alkatiri foi um fundador da Fretilin. O [atual primeiro-ministro e ex-Presidente] Xanana [Gusmão] era membro do comité central da Fretilin em 1974. O [Presidente de 2012 até 2017 e primeiro-ministro entre 2018 e 2023] Taur Matan Ruak tinha 18 anos. O [antigo presidente do parlamento e Presidente da República] Francisco Lu-Olo tinha 19 ou qualquer coisa como isso. Estamos a falar de pessoas que estão atualmente na casa dos 70, entre os 70 e os 80, que têm 50 anos de história em comum", detalha.

Rui Feijó frisa que a história que estes dirigentes partilham "é uma história de convergências, divergências, abraços, bofetadas. É uma história muito complexa e é uma história que tem a ver com uma elite política muito pequenina".

Timor-Leste "não é um país particularmente grande". Eram 600 mil em 1974, agora é o dobro disso, é um bocadinho mais de 1,2 milhões. Mas a elite política é muito pequena e está tudo concentrado nesses catuas [expressão usada em Timor para identificar um ancião] e eu acho que esse é efetivamente um dos pontos de interrogação que nós temos em Timor hoje em dia. Quem é que vai suceder, como é que eles vão sair", aponta.

Rui Feijó não tem dúvidas: "Vai ser difícil. Está a ser difícil, mas é absolutamente necessário que a nova geração assuma mais responsabilidades", diz.

Ana Gomes sintetiza que no plano político "este é o momento para se fazer essa transição".

"Não se pode adiar mais, dada a idade que têm os responsáveis históricos. Eu acho que eles têm bem consciência que esse é o grande desafio para eles próprios", conclui.

No próximo dia 30, o país completa 25 anos sobre a realização do referendo que culminou, em 20 de maio de 2002, na restauração da independência proclamada unilateralmente em 28 de novembro de 1975.

O preço pago pela escolha decidida esmagadoramente (78,5%) pela maioria dos timorenses que participaram na consulta popular (98%) foi dramático, com os militares indonésios e as milícias por eles treinados a deixarem no território um rasto de violência, destruição e morte, que levou a que as Nações Unidas criassem uma força internacional para intervir.

Em 22 de setembro de 1999, soldados australianos sob bandeira da ONU entraram em Díli e encontraram um território totalmente incendiado e devastado, com grande parte das infraestruturas destruídas.

EL // VM

Lusa/Fim

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