As associações de proteção animal vivem "dias muito difíceis" devido a dificuldades financeiras, decorrentes do aumento das despesas médico-veterinárias e do atraso nos apoios governamentais, que colocam em causa a sobrevivência de algumas organizações, alertaram hoje alguns responsáveis.
"A associação está a atravessar muitas dificuldades. E a situação agravou-se devido ao atraso do pagamento da portaria da Direção Regional da Agricultura a que temos direito", disse à agência Lusa a presidente da Associação de resgate animal SER, sediada na ilha Terceira, Sofia Ferreira.
A responsável assinalou o avultado passivo, sobretudo devido a tratamentos médico-veterinários, alertando que a associação acolhe cada vez "mais animais, mesmo sem poder".
"Cada vez recebemos mais pedidos de ajuda. O panorama continua muito negro e muito mau. Além do abandono, existem muitos animais nas ruas que precisam de tratamentos. Temos uma despesa maior para além do que conseguimos angariar em eventos, vendas de artigos e donativos", explicou a dirigente da SER.
Além disso, Sofia Ferreira sublinhou que os atrasos nos apoios governamentais colocam as associações "numa situação ainda mais complicada".
"Trabalhamos feriados e fins de semana para conseguir juntar trocos", vincou a responsável.
Em causa está um decreto legislativo regional criado pelo PAN/Açores e aprovado há um ano - que prevê a atribuição de um apoio financeiro extraordinário às associações zoófilas para fazer face às despesas médico-veterinárias.
Esta iniciativa foi criada para aliviar o 'stress' financeiro das associações que atuam em matéria de proteção e bem-estar animal.
"Estamos a fazer um trabalho que diz respeito à autarquia, fazemos por amor à causa, por amor aos animais", vincou Sofia Ferreira.
A presidente da Associação de Proteção dos Animais Recomeço, na Praia da Vitória, ilha Terceira, Rosário Ferreira, disse também à Lusa que a organização, criada há 11 anos, "luta com muitas dificuldades" para fazer face às despesas.
"Não recebemos o apoio desde o terceiro trimestre de 2023", alertou Rosário Ferreira, denunciando que "há cada vez mais pedidos" para apoio a animais.
Segundo a dirigente da Recomeço "tudo serve de desculpa" para justificar o abandono: "ora é uma mudança de casa, ora divórcio ou então que o animal cresceu e já não têm espaço".
"Às vezes pedem ajuda, mas outras vezes encontramos os animais abandonados na rua", lamentou a responsável da associação, que tem à sua conta "150 animais, dos quais cerca de 60 estão no canil oficial cedido pela autarquia de Angra e outros em famílias de acolhimento".
Rosário Ferreira lamentou também que as associações estejam "há mais de nove meses a aguardar" o pagamento dos apoios do Governo Regional (PSD/CDS-PP/PPM), estando, também, "a primeira tranche de 2024 por pagar".
"As nossas dívidas rondam os 20 mil euros nas clínicas. Temos o prazo de três meses para pagar as faturas do veterinário. Tudo o que conseguimos angariar é para pagamento de despesas no veterinário, mas mesmo assim é muito complicado", revelou.
Contactado pela Lusa, o secretário regional da Agricultura e Alimentação, António Ventura, assegurou que, "em breve, os pagamentos estão em processamento".
"É claro que as associações de proteção animal têm razão, mas também temos a nossa razão e temos que cumprir a legislação em vigor", disse o governante.
De acordo com o secretário regional, "está em causa o pagamento de um valor de três mil euros a cada uma das 27 associações de proteção animal e centros de recolha oficial que se candidataram a este fundo, em que não é preciso comprovativo para receber o apoio".
"Fizemos uma alteração legislativa em que todas as associações de proteção animal recebem 3.000 euros como fundo de maneio para fazer face às suas despesas sem ser necessário apresentar comprovativo. O restante apoio, ou seja, até 12 mil euros é pago mediante apresentação de comprovativos de despesas", explicou António Ventura.
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