A concentração estava marcada para as 14:30 em frente à Basílica da Estrela e, apesar do atraso, o protesto convocado pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS) já juntava várias centenas de pessoas uma hora depois, quando a marcha arrancou em direção ao edifício do Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) na Avenida 24 de Julho.
"Salário mínimo a vida toda? Não, obrigada" e "Trabalhadores não docentes exigem carreiras decentes" são algumas das mensagens nos cartazes que vão exibindo, enquanto gritam palavras de ordem como "A negociação é um direito, sem ela nada feito".
No protesto, estiveram presentes os líderes do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, e do PCP, Paulo Raimundo.
Antes mesmo do início da marcha, Mariana Mortágua foi interpelada por uma das manifestantes, Rosa Ferreira, assistente operacional numa escola em Cascais, que quis denunciar a sua situação.
"Tenho o maior orgulho na minha profissão, mas o maior desgosto com o meu salário. Ganho 821 euros", contou, lamentando o que disse ser uma situação vergonhosa e defendendo a criação de uma carreira especial e dignidade para a profissão.
Os problemas de Rosa Ferreira são partilhados por milhares de profissionais, relatou à Lusa outra trabalhadora não docente, que conta como muitas colegas com mais de 40 anos de serviço continuam a ganhar o salário mínimo.
"Parece uma anedota", lamentou Cristina Tomé, assistente técnica, que considera que o processo de descentralização agravou muitos dos problemas e criou outros.
"Uma câmara municipal que tenha capacidade financeira para variadíssimas coisas na educação pode fazê-las, uma outra câmara com menos capacidade financeira já não faz. Então e o aluno?", questionou.
"Estes trabalhadores têm uma situação de desvalorização salarial inaceitável", sublinhou também Artur Sequeira, da federação sindical, contestando a desresponsabilização do MECI, a quem diz que compete resolver os problemas da escola pública.
A manifestação dos trabalhadores não docentes marcou também o dia em que esses profissionais estiveram em greve, uma paralisação que, segundo Artur Sequeira, teve a adesão de cerca de 85% dos não docentes, levando ao encerramento da "grande maioria das escolas".
"Aos alunos e aos pais dizemos que os trabalhadores não docentes estão em greve porque não estão contentes, mas também porque têm noção que a escola pública sem trabalhadores dignificados não tem qualidade e segurança", acrescentou.
Também presente no protesto, o coordenador da Frente Comum, Sebastião Santana, lamentou as "carreiras desvalorizadas e salários baixos" daqueles que "todos os dias têm um papel absolutamente essencial para a escola pública".
À chegada ao MECI, os trabalhadores foram surpreendidos com um perímetro de segurança montado pela PSP em frente ao edifício onde funciona o ministério, mas fizeram questão de repetir, em bom som, as mesmas palavras de ordem para se fazerem ouvir junto da tutela.
Os trabalhadores não docentes exigem a criação de carreiras especiais, aumentos salariais e melhores condições de trabalho.
A FNSTFPS também pede uma revisão da portaria de rácios que aumente o número de trabalhadores, o fim da precariedade e um reverso no processo de municipalização.
Na sequência do processo de descentralização, os trabalhadores não docentes passaram a ser contratados pelas autarquias, mas o próprio ministro da educação já defendeu a necessidade de repensar a situação desses profissionais.
[Notícia atualizada às 17h57]
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