"Em 2008 já tinha sido convidada, mas não tive oportunidade. Mas agora, com a situação a piorar com a AfD (partido de extrema-direita alemão) e com os planos que têm da 'remigração', pensei que era um momento importante para me tornar ativa, para lutar pelos nossos direitos, e para mostrar à sociedade alemã quem somos e o que fazemos", sublinhou, em declarações à agência Lusa.
Eva Oliveira foi escolhida entre 42 pessoas para liderar o Conselho Consultivo de Migração da cidade, numa direção que é, pela primeira vez, formada apenas por mulheres. Este órgão tem direito de voto, a possibilidade de apresentar requerimentos a nível municipal, e tem como objetivo aconselhar os partidos políticos em temas como racismo, discriminação ou direito de igualdade.
Depois de a extrema-direita ter atingido resultados históricos nas últimas três eleições regionais na Alemanha, e com nova votação no próximo outono para escolher um novo Governo federal, a portuguesa acredita que se a extrema-direita continuar a ganhar poder nos próximos anos, todos os estrangeiros devem equacionar sair do país.
"Em geral, se a situação piorar muito, sim, acho que nós todos já temos um plano B, caso a situação se tornar muito crítica. Quanto à minha situação e ao meu trabalho, não tenho qualquer tipo de receio", realçou.
"Notamos essa radicalização na rua, no emprego, quando as pessoas dizem que a AfD não é contra os estrangeiros, mas apenas contra aqueles que querem abusar do sistema social (...) As pessoas estão mais agressivas, mandam bocas com mais facilidade, há uma forma não tão sensível de lidar uns com os outros", referiu.
Heidelberg tem cerca de 56 mil pessoas com antecedentes migratórios de 160 nacionalidades diferentes que representam 35% da população total a viver na cidade.
"Fazer com que a nossa presença seja mais forte, mostrar as nossas qualidades e potencialidades (...) Tentar fazer com as necessidades dos estrangeiros e dos imigrantes sejam vistas e apreciadas quando vão ser tomadas decisões para a sociedade local", são algumas das metas traçadas por Eva Oliveira, que assumiu o cargo no início do mês.
A portuguesa acredita que este é o momento de "atuar", e assegura que, apesar de ter ouvido vários relatos de cidadãos com antecedentes migratórios terem sido alvos de ameaças durante campanhas eleitorais, não tem medo de futuras represálias e espera que outros sigam o mesmo caminho.
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