Há cientistas que dizem que essa oportunidade, de reverter o declínio biológico do oceano, criando uma reserva, vai até 2030/50, lembrou.
Será uma reserva de 30% das áreas marinhas protegidas, para que se consiga manter "um mínimo de natureza dos oceanos" e para que no planeta se chegue ao fim do século com a capacidade "de manter vivos os sistemas de suporte de vida no planeta sem os quais grande parte da vida desaparece".
Os alertas de Tiago Pitta e Cunha surgem a propósito da próxima cimeira mundial sobre a biodiversidade, a COP16, que começa na segunda-feira em Cali, na Colômbia, e que durante 10 dias deverá desenvolver os mecanismos para preservar 30% do planeta até 2030.
A cimeira acontece quase dois anos depois da reunião realizada no Canadá (COP15), na qual foi adotado um acordo global de proteção da biodiversidade, o chamado Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal (QGBK-M), assinado por 190 países e que contempla a gestão eficiente de 30% das áreas terrestres, águas interiores, costeiras e marinhas do mundo, até 2030.
Atualmente só cerca de 17% das áreas terrestres e 08% das marinhas estão legalmente protegidas, mas é consensual que especialmente as áreas marinhas são muitas vezes protegidas apenas no papel.
Em declarações à Lusa o responsável, no que considerou uma análise realista, disse que gostaria que os 08% passassem para 15% em 2026, e que em 2028 fossem mais de 20%, até 25%.
Se em 2030 não estiverem os 30% mas houver uma "rota de aproximação muito rigorosa já estamos na boa direção", e para isso é preciso que da reunião de Cali saia "um roteiro, um mapa" para o percurso dos próximos anos, defendeu.
É que, insistiu, para que não se inviabilize a vida na Terra no final do século, "pelo menos da humanidade", tem de se proteger 30% do planeta e o principal instrumento para o fazer é criar um caminho para os países chegarem a esse valor. Esse roteiro tem de ser definido nas próximas cimeiras.
"Para percebermos se estamos a ir na direção certa dos 30%", disse Tiago Pitta e Cunha, enfatizando que sem esse modelo e sem um mecanismo de monitorização os objetivos podem não ser alcançados.
A Fundação Oceano Azul, adiantou, tem estado a trabalhar com um instituto francês sobre como deve funcionar esse mecanismo, que deve ter metas interinas entre 2024 e 2030, e tem procurado que essa questão seja discutida em Cali.
O presidente da associação ambientalista Zero e professor universitário (Universidade Nova), Francisco Ferreira, acrescenta outra questão: nesta COP16, de implementação, um dos aspetos cruciais é também a monitorização e mobilização de recursos.
"Ter indicadores para acompanhar o que se está a passar e mobilizar financiamento de 20 mil milhões de euros por ano são prioridades cruciais", afirmou Francisco Ferreira, que deverá participar na cimeira, também em declarações à Lusa.
Lembrando que ainda este ano decorrem mais duas "COP", uma sobre clima e outra sobre desertificação, todas ligadas à crise planetária que se vive, Francisco Ferreira disse que em Cali é fundamental que se comecem a trabalhar as 23 metas globais decididas na última cimeira, há dois anos em Montreal, para serem atingidas em 2030.
"É necessário que cada país submeta a sua estratégia e plano de ação de biodiversidade. Portugal ainda está a faze-lo", observou.
E como Tiago Pitta e Cunha deixou um alerta: "a biodiversidade é neste momento uma crise planetária verdadeiramente dramática. Estamos a perder biodiversidade, estamos com população crescente, estamos com a ameaça das alterações climáticas também para a própria biodiversidade".
É por isso também que Tiago Pitta e Cunha quer que saia da COP16 uma maior notoriedade sobre a importância da biodiversidade, porque as pessoas não estão cientes do objetivo "30 por 30", proteção de 30% da natureza global até 2030.
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