"Nós não vamos pactuar com a violência, nós não vamos pactuar com o desrespeito pela ordem pública. Isso não é aceitável numa democracia e muito menos é aceitável num país que é um exemplo de garantia dos direitos e liberdades", afirmou Luís Montenegro, em declarações aos jornalistas, à saída do Fórum Empresarial Luso-Espanhol, que encerrou ao lado do chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, logo após a 35.ª Cimeira Ibérica.
Do lado do Governo, participarão na reunião a ministra da Administração Interna e o ministro da Presidência, segundo fonte do executivo.
Montenegro salientou que quem queira manifestar as suas preocupações ou "até as suas revoltas contra o poder político" deve e pode fazê-lo dentro do quadro legal.
"As Forças de Segurança têm sido muito competentes em conter essa onda de violência, mas se eventualmente tivermos de endurecer essa contenção, nós teremos de o fazer", avisou.
O primeiro-ministro começou por lamentar os episódios de violência registados nos últimos dias, considerando que "há um limite a partir do qual a manifestação de uns é violentar a liberdade dos outros".
"E esse momento tem de ser absolutamente salvaguardado. Eu quero deixar aqui uma palavra de grande apreço às forças de segurança portuguesas, que têm feito um esforço notável de tentar conter esse ímpeto de violência dentro de um padrão que não seja alimentar e fazer escalar essas manifestações", afirmou.
Montenegro fez um apelo para que possa "preponderar o bom senso e o respeito por todos os cidadãos e pela ordem pública" e assegurou que o Governo e o Sistema de Segurança Interna têm estado sempre a acompanhar a situação para garantir que "não há colisão entre o direito de as pessoas manifestarem e a tranquilidade pública e a mobilidade das pessoas em segurança no nosso território".
"Amanhã mesmo será realizada uma reunião com os presidentes de Câmara e autarcas da Área Metropolitana de Lisboa, no decurso da qual poderemos aprofundar a melhor maneira de suster estes episódios de violência, eliminá-los e estabelecer aquilo que é do interesse público e do interesse do país", disse.
Segundo o primeiro-ministro, terá de ser estabelecido "um diálogo entre o Governo, as Forças de Segurança e as comunidades que vivem na AML e, em especial, em alguns bairros onde os problemas sociais são conhecidos e merecem intervenção".
"Estamos disponíveis para dialogar com as autarquias locais e para dialogar mesmo com a comunidade, com as pessoas, com as associações representativas das organizações, com vista a podermos, por um lado, eliminar qualquer foco de tensão e, por outro lado, dar garantias, não só de tranquilidade pública, como de acompanhamento social para que as pessoas possam viver bem em Portugal", afirmou.
A reunião, explicou, foi pedida pelo Governo aproveitando uma outra, que já estava prevista, do Conselho Metropolitano de Lisboa.
"Este é um Governo com forte preocupação social, este é um Governo que não tem dúvidas no que diz respeito à integração e acolhimento, por exemplo, de imigrantes", vincou.
Questionado que tipo de reforço de meios policiais poderá ser utilizado se persistirem os distúrbios, o primeiro-ministro não quis detalhar.
"Implica aquilo que tiver de ser mobilizado para terminar com isto. A violência não é aceitável. As pessoas têm de se convencer que nós temos de nos respeitar uns aos outros, nós temos de garantir a autoridade do Estado, das instituições do Estado e a paz e a ordem pública. Mas queremos fazê-lo num contexto de responsabilidade e de um uso proporcionado dos instrumentos de força das nossas polícias", assegurou.
Odair Moniz, 43 anos, cidadão cabo-verdiano, e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.
Desde a noite de segunda-feira foram registados desacatos no Zambujal e, já na terça-feira, noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados dois autocarros, automóveis e caixotes do lixo, e detidas três pessoas. Dois polícias receberam tratamento hospitalar devido ao arremesso de pedras e dois passageiros dos autocarros incendiados sofreram esfaqueamentos sem gravidade.
[Notícia atualizada às 17h51]
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