Quando acontece um sismo devastador como o que atingiu a Turquia, em fevereiro de 2023, e matou quase 60 mil pessoas, ou uma enxurrada como a provocada pelo fenómeno DANA (Depressão Isolada em Níveis Altos, sigla em português), em Valência, Espanha, que causou mais de 200 vítimas mortais no início do último mês de novembro, é necessário ter à mão uma mochila de emergência com bens essenciais.
Com isso em mente, o engenheiro e diretor da Escola Portuguesa de Salvamento, Francisco Rocha, disse ao Notícias ao Minuto o que deve estar nessa mochila de emergência, que deve estar sempre à mão.
A mochila, "que se custar 30 euros a fazer é muito", deve respeitar os '5 Cs da sobrevivência':
- Combustão: "É a capacidade de fazer fogo";
- Cobertura: Pode ser um cobertor, por exemplo. O importante é ter algo "para nos cobrir e proteger da hipotermia";
- Corte: "Um objeto cortante", que pode ser uma faca ou tesoura
- Corda: "Algo para amarrar";
- 'Container' ou contentor: "Algo para transportar água".
De acordo com o especialista em salvamento, estes '5 Cs da sobrevivência' ajudam-nos a proteger das "três coisas que nos matam": hipotermia, sede e fome.
Sabe qual é o perigo mortal mais imediato para o ser humano em caso de catástrofe? "Por incrível que pareça, não é a fome nem a sede. Morremos após três horas em hipotermia. Em segundo lugar, a água. Três dias sem água e nós morremos, por isso a água entra no princípio dos três fatores. E o terceiro é a comida. Três semanas sem comer e morremos", explicou ao Notícias ao Minuto Francisco Rocha.
Contudo, também é importante ter um jogo para a hipótese de ficarmos sozinhos em algum local, durante muito tempo, após a catástrofe e Francisco Rocha justifica porquê.
"Podemos morrer após três meses sem convívio social. Logo, a mala de emergência deve ter um jogo. A solidão mata e ter um jogo pode ser importante. A nossa mala deve ser feita em função disso", avisou o diretor da Escola Portuguesa de Salvamento.
Portanto, para clarificar: o ser humano aguenta cerca de três horas de hipotermia, três dias de sede e três semanas de fome.
Que tipo de comida se deve ter na mochila?
Além das habituais conservas, Francisco Rocha aconselha a ter à mão as NRG ou rações de emergência.
"São basicamente a mesma coisa que vem nas balsas salva-vidas no mar. Isso é intragável para comer. Há colegas meus que comem isso e dizem que é bom, mas eu digo mesmo que não é. Dá para bebés, para adultos, para toda a gente. Dentro dessa caixinha tens uma semana de comida. Isto é a chamada comida de sobrevivência", afirmou o especialista em salvamento.
Em Portugal, as NRG podem encontrar-se em lojas que vendem equipamento militar ou através da internet.
"Há muitos fornecedores em Portugal. As NRG consegues encontrar e até há vegans, que também são uma boa opção, sobretudo para quem é alérgico", aconselhou.
Fotocópias dos documentos evitam tráfico humano: "É muito importante"
Ter as fotocópias dos documentos nesta mochila de emergência é muito importante, sobretudo para quem tem filhos ou outros dependentes menores de idade, para evitar que alguém se faça passar por si e fique com a sua criança para tráfico humano.
"É muito importante e as pessoas esquecem os documentos. Eu tenho fotocópias dos meus documentos nas mochilas, os que comprovam que sou pai e os da criança, que são daquelas coisas extremamente importantes porque sair de casa sem comprovativo de que se é pai pode ser muito grave. Na Turquia houve muitas situações de tráfico humano, infelizmente. Como é que se prova que é o pai da criança?", questiona Francisco Rocha.
E dá o exemplo do que aconteceu após o terramoto na Turquia, onde a sua equipa esteve no terreno.
"Foi identificado pelas Nações Unidas que, após o sismo, houve tráfico humano. Se vires uma criança a chorar num sismo, no colo de uma pessoa, não vais desconfiar que não é o pai ou a mãe. Como é que provas que a criança é tua se saíste de casa de pijama ou em boxers? Sem documentos, como é que provas? São coisas em que nunca pensamos, mas infelizmente acontecem neste cenário de catástrofe", acrescentou o diretor da Escola Portuguesa de Salvamento.
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