O ex-presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, defendeu que a Europa "precisa de estímulos e crises" para avançar e admitiu que concorda com o presidente norte-americano eleito, Donald Trump, no quando diz que os europeus devem assumir "mais responsabilidades" na área da Defesa.
"Nesse aspeto, Trump tem toda a razão. A Polónia, os países bálticos, a Suécia e Finlândia estão-se a preparar ativamente para uma guerra. Portanto, faz sentido que os europeus invistam na defesa e o façam de forma comunitária", explicou Durão Barroso na 'Grande Entrevista', da RTP3.
Para o antigo primeiro-ministro português, a hipótese de haver uma "guerra alargada" na Europa é bem real e, por isso, "devemos preparar-nos".
"Hoje em dia, os especialistas dos serviços de informações e sistema de defesas dizem que é muito possível haver uma guerra mais generalizada na Europa. Até agora, temos uma guerra já de si um pouco estranha em que a Rússia, o maior país do mundo em termos territoriais, invade um país europeu que não é membro da UE nem da NATO, mas os argumentos que utiliza poderiam, de certa forma, ser utilizados por outros países que fizeram parte da União Soviética", alertou o ex-presidente da Comissão Europeia.
Em Vladimir Putin, que pode ser um dos principais impulsionadores desta "guerra alargada", Durão Barroso vê "traços de um autoritarismo da direita extrema", considerando ainda que o presidente da Rússia "tem elementos de paranoia".
"Europa tem sido um teenager do ponto de vista geopolítico"
Durão Barroso vê hoje a Europa como um "grande agente internacional" no que toca à economia e comércio, mas considerou que, do ponto de vista geopolítico, "tem sido um teenager".
"Tive a honra de participar nas cimeiras do G20 a partir de 2008, quando foram criadas. Posso testemunhar que quando se chega àquele plano, quem de facto manda são os Estados Unidos, a China e a Europa, se a Europa aparecer em conjunto, mas até hoje não tem sido capaz de projetar o seu poder económico e comercial no plano geopolítico", defendeu o antigo primeiro-ministro português.
Na opinião de Durão Barroso, isto acontece porque a UE tem, na própria constituição, "a ideia subjacente de fazer a integração política pela via económica".
"Com os fatores económicos a predominar sobre os fatores geopolíticos, além do facto de alguns países importantes, como o Reino Unido, resistirem sempre a uma Europa geopolítica - porque viam isso como uma ameaça à credibilidade da própria NATO. Neste momento, este argumento está a ganhar. Vão ter de se decidir os concursos para compra de armamento. Mais de 60% de despesa em defesa na Europa é comprando material norte-americano", acrescentou.
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