"A proximidade ao Paranal do megaprojeto industrial da AES Andes representa um risco crítico para os céus noturnos mais prístinos do planeta", sublinhou, citado em comunicado, o diretor-geral do OES, Xavier Barcons.
Em causa está a construção pela produtora e distribuidora chilena de eletricidade AES Andes de um porto, de instalações de produção de amoníaco e de hidrogénio e de milhares de unidades de produção de eletricidade numa área de mais de 3.000 hectares, a poucos quilómetros dos telescópios que compõem o observatório astronómico do Paranal, operado pelo OES, organização da qual Portugal é Estado-membro.
"As emissões de poeira durante a construção, o aumento da turbulência atmosférica e, especialmente, a poluição luminosa terão um impacto irreparável nas capacidades de observação astronómica do Paranal, que até agora têm atraído investimentos de vários milhares de milhões de euros por parte dos governos dos Estados-membros do OES", assinala Xavier Barcons.
Para o OES, "é fundamental relocalizar o complexo", cujo projeto foi submetido a avaliação de impacto ambiental em dezembro, para que "possa ser salvo um dos últimos céus escuros verdadeiramente prístinos da Terra".
O OES realça que o deserto do Atacama "é um laboratório natural único para a investigação astronómica", devido à estabilidade atmosférica e ausência de poluição luminosa (excesso de iluminação pública), "atributos essenciais" para trabalhos científicos que visam "responder a questões fundamentais, como a origem e a evolução do Universo ou a procura de vida e a habitabilidade de outros planetas".
No comunicado, o OES reforça que o observatório do Paranal "constitui um recurso fundamental para os astrónomos de todo o mundo", que conduziu a "descobertas astronómicas significativas", como a obtenção da primeira imagem de um planeta fora do Sistema Solar ou a confirmação da expansão acelerada do Universo.
A nota destaca, ainda, que os telescópios do Paranal "desempenharam um papel crucial" no trabalho relativo ao buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea, que valeu o Prémio Nobel da Física de 2020 ao astrofísico alemão Reinhardt Genzel e à astrónoma norte-americana Andrea Ghez.
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