"Figura ilustre" Macau recorda tenente-general Rocha Vieira

O último governador de Macau, Vasco Rocha Vieira, que morreu aos 85 anos, lançou as bases do sucesso da região chinesa e defendeu os direitos dos funcionários públicos, embora com "alguns desencontros", disseram hoje à Lusa dirigentes locais.

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Lusa
22/01/2025 14:36 ‧ há 2 horas por Lusa

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Macau

uma figura ilustre, fundamental na história da transição de Macau, mas também, em certa medida, do presente e do futuro", disse José Sales Marques, presidente do Leal Senado, antiga câmara municipal, entre 1993 e 1999.

 

"Há muita coisa que foi feita durante esse período e que hoje em dia continua. As bases da Região Administrativa Especial de Macau têm muito a ver também com a obra do tenente-general Rocha Vieira", defendeu Sales Marques.

Rocha Vieira exerceu o cargo de governador de Macau entre 1991 e 1999, quando se processou a transferência do território para a China. Foi no seu mandato que foi concluída a construção do aeroporto da cidade.

A Macau que Rocha Vieira encontrou e a que deixou "não se compara. Aquilo que se fez naqueles anos todos é qualquer coisa que a história já tem registado", defendeu Sales Marques. também membro do então Conselho Consultivo de Rocha Vieira.

O antigo deputado António Ng Kuok Cheong disse à Lusa que, apesar da desconfiança dos chineses, a administração "tentou fazer alguma coisa para incentivar o crescimento económico da cidade, que era muito pobre nessa altura, antes de devolver Macau".

António Ng, eleito para a Assembleia Legislativa cinco meses depois da nomeação de Rocha Vieira, sublinhou que o principal obstáculo foi a resistência da China à liberalização do setor do jogo, que acabaria por só ser lançada em 2002.

Algo que obrigou a administração portuguesa a vender terrenos para financiar os projetos de infraestruturas, inadvertidamente plantando as raízes do problema de habitação que Macau enfrenta atualmente, referiu.

"Eles tentaram vender a terra de forma aberta, mas o Governo chinês impediu-os. Assim, a maior parte das terras foi vendida a pessoas poderosas da China por um preço muito baixo, porque a economia de Macau estava muito fraca", recordou Ng.

Estava criada uma classe de senhorios que, após Macau se tornar a capital mundial dos casinos, enriqueceu ao controlar a oferta e manter os preços da habitação elevados, lamentou o antigo deputado.

Jorge Fão, um dos fundadores da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFMP), em 1987, notou que Rocha Vieira "cumpriu a missão como governador" e "dignificou o seu país".

O ex-presidente da ATFPM, à frente da associação "por mais de dez anos", lembrou à Lusa que foi "sindicalista antes de ser político" e "teve alguns desencontros" com o tenente-general.

Fão explicou que foi "um dos protagonistas" que trabalhou para que, após a transição de Macau para a China, "os funcionários públicos [da administração portuguesa] tivessem direito a uma pensão" paga por Portugal.

"Nenhum funcionário das outras colónias teve direito (...) Quando se começou a falar de discutir a entrega de Macau para a China, ficámos muito preocupados. Encetámos as nossas lutas sindicais e tivemos vários encontros com a governança de Portugal e de Macau (...). Nós tivemos uns encontros e também nesses encontros tivemos desencontros", lembrou.

No final, resumiu o atual presidente da Assembleia Geral da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau, "o desfecho não foi mau".

"Todo o mundo deve estar satisfeito, também eu que tomei parte nessa luta e vivo dessa pensão já há mais de 30 anos", defendeu.

Na passagem da administração, contavam-se cerca de 3.600 aposentados com pensões transferidas para Portugal, concluiu.

Em 2022, Jorge Fão disse à Lusa acreditar que viviam na região chinesa cerca de dois mil reformados da antiga administração portuguesa de Macau.

Vasco Rocha Vieira, antigo Chefe do Estado-Maior do Exército entre 1976 e 1978, morreu hoje aos 85 anos, confirmou à Lusa fonte oficial daquele ramo militar.

Leia Também: Bolieiro sobre Rocha Vieira: "desempenhou funções públicas com dignidade"

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