Os grupos municipais de PEV, BE, MPT, PCP, Livre e PS apresentaram votos de pesar pela morte de Maria Teresa Horta, tendo todos sido aprovados por unanimidade, o que culminou com um minuto de silêncio em sua memória.
Nascida em Lisboa, em 20 de maio de 1937, a escritora Maria Teresa Horta, a última das "Três Marias", morreu hoje, aos 87 anos, na capital portuguesa, anunciou a sua editora Dom Quixote.
O voto de pesar do PEV realça o trabalho de Maria Teresa Horta como escritora, jornalista, ativista e poetisa portuguesa, referindo que foi uma das autoras do livro 'Novas Cartas Portuguesas', pelo qual foi processada e julgada em 1972, ao lado de Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, com quem fez parte do Movimento Feminista de Portugal, num grupo denominado "Três Marias".
O BE lembra que a escritora e jornalista foi, recentemente, escolhida pela BBC para a lista das "100 mulheres mais influentes e inspiradoras de todo o mundo".
Indicando que Maria Teresa Horta foi autora de uma extensa obra, o voto de pesar do BE refere que a escritora viu o seu livro de poesia Minha Senhora de Mim apreendido pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) oito dias após a sua publicação e, posteriormente, "foi alvo de uma feroz perseguição e de um processo de pura humilhação", tendo chegado a ser fisicamente agredida na rua, em que lhe disseram: "É para aprenderes a não escreveres como escreves".
O MPT recorda Maria Teresa Horta como "voz inconfundível da literatura portuguesa (com uma obra maioritariamente dedicada à poesia), jornalista (foi uma das primeiras mulheres a ter carteira profissional), intransigente defensora dos direitos das mulheres no pré e pós 25 de Abril", referindo que foi autora de "obras polémicas" como "Ambas as Mãos sobre o Corpo", publicado em 1970, e "Minha Senhora de Mim", editado em 1971, e foi coautora das "Novas Cartas Portuguesas", publicado em 1972.
Da parte do PCP, partido do qual Maria Teresa Horta foi militante entre 1975 e 1989, enaltece-se a "escritora de grande vulto, inicialmente jornalista", indicando que foi também uma cidadã com intervenção "durante a ditadura e até aos dias de hoje, na defesa da liberdade de expressão e dos direitos das mulheres, contra a profunda discriminação e inferioridade a que a mulher estava sujeita", sofrendo por isso a repressão do regime fascista.
"Foi a voz serena, límpida, de combate e rebeldia, de afirmação do corpo e do desejo da mulher; uma poética que estabeleceu de forma exemplar, nos tempos, na distensão sintática, na componente lírica e livre da fala, na revelação dos territórios íntimos, o combate geracional pela dignidade e pela justiça", lê-se no voto de pesar do PCP.
Para o grupo municipal do Livre, a morte de Maria Teresa Horta deixa todas as mulheres "mais sós", além de que "a literatura, a cultura e a liberdade deste país estão mais sós", após ver partir alguém que "incondicionalmente defendeu a condição feminina, que insubmissamente lutou pelo direito à criação, que inabalavelmente se afirmou como uma das vozes mais livres na escrita nacional".
Lembrando Maria Teresa Horta como uma das mais importantes escritoras portuguesas da atualidade, o PS refere que a sua obra foi marcada por "uma forte crítica social e política", e "foi e tem sido fundamental para a afirmação da voz feminina na literatura portuguesa", sublinhando que a sua carreira literária se iniciou na década de 1960, em plena ditadura salazarista.
"Maria Teresa Horta contribuiu poderosamente para a mudança de mentalidades, tendo a sua obra e ativismo ajudado a questionar os papéis tradicionais das mulheres, sendo inspiração para as novas gerações: o seu legado continua a inspirar as mulheres a lutar pelos seus direitos e pela igualdade", afirma o PS, reforçando que a sua escrita é também um testemunho importante da história de Portugal nas últimas décadas.
Segundo a sua editora Dom Quixote, num comunicado enviado à Lusa, a morte da escritora é "uma perda de dimensões incalculáveis para a literatura portuguesa, para a poesia, o jornalismo e o feminismo, a quem Maria Teresa Horta dedicou, orgulhosamente, grande parte da sua vida".
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