O voto de protesto apresentado pela CDU pela alienação de imóveis no bairro das Eirinhas e em Miragaia por parte da Diocese do Porto foi aprovado por todas as forças políticas.
Pelo PS, Tiago Barbosa Ribeiro considerou "muito estranho" o negócio realizado pela diocese que, defendeu, "deve ter um papel social no seu património".
Lembrando que os moradores das Eirinhas vivem "com o coração nas mãos", o socialista defendeu que o município deve usar todos os mecanismos legais para evitar que as operações urbanísticas possam ser desenvolvidas no bairro.
"Entendemos que a Igreja não está a cumprir o seu papel no Porto do ponto de vista social", acrescentou.
Em resposta, o presidente da Câmara do Porto, que já tinha criticado a alienação feita pela diocese, assim como a resposta que recebeu do bispo do Porto, avançou que o município poderá avançar com a classificação das casas das Eirinhas.
"Isso não garante a permanência das pessoas, mas a partir do momento que o processo se inicie começa a haver alguma proteção", esclareceu Rui Moreira.
À semelhança do PS, também a vereadora social-democrata, Mariana Ferreira Macedo, disse não compreender o negócio realizado e lamentou as "barreiras, muros e silêncios" existentes entre a diocese e a autarquia.
"É com dificuldade que percebemos este negócio. Podem faltar elementos, mas custa-nos entender e, por vezes, na vida o mais difícil de ultrapassar é quando não entendemos algo", referiu a social-democrata, defendendo a necessidade da igreja se "explicar melhor".
Pela CDU, Joana Rodrigues, que na reunião substituiu Ilda Figueiredo, disse esperar que a diocese possa vir, de futuro, a proceder de forma diferente.
"Que este voto sirva para que a diocese possa ter outro tipo de procedimento", referiu, considerando o negócio levado a cabo "completamente incorreto".
Também o vereador Sérgio Aires, do BE, considerou o negócio "estranho do ponto de vista legal" e afirmou que esta "não é seguramente a igreja de [Papa] Francisco".
"Não se entende que façam uso do património que nem sequer é deles, foi-lhes oferecido mas com um fim específico", considerou o vereador, dizendo acreditar ser preciso "chamar à atenção e razão a Igreja".
No decorrer da discussão, o presidente da Câmara do Porto avançou que irá enviar uma carta ao núncio apostólico, o arcebispo Ivo Scapolo, a demonstrar a preocupação do município e que "a Igreja não se está a comportar como é tradição na cidade do Porto".
Rui Moreira acrescentou ainda que, até ao final do seu mandato, não irá aprovar nenhuma deliberação "no sentido de contribuir com qualquer tostão para a Igreja Católica".
As casas das Eirinhas, propriedade da diocese, foram alvo de uma permuta, sendo o novo proprietário uma empresa de construção civil, o que levou os moradores a temerem ficar sem casa, revelou, na altura, o Jornal de Notícias (JN).
Num comunicado publicado na sua página oficial da Internet, a Diocese do Porto explicou que as permutas que fez de alguns dos seus imóveis, que têm sido alvo de críticas, não têm como intuito fazer dinheiro para o transferir para outros negócios.
Este esclarecimento da diocese surgiu depois de o Correio da Manhã (CM) adiantar que aquela terá permutado três prédios de quatro andares em Miragaia por três T1 avaliados, cada um, em 200 mil euros.
O jornal estima ainda que cada um dos prédios valia pelo menos 1,5 milhões de euros.
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