Moradores de bairro no Porto criticam abandono e "imundice"
O cheiro nauseabundo entranha-se, tal como a comichão das moscas atraídas pelo lixo e fezes humanas nas ruas do bairro do Leal, no Porto, deixando os moradores indignados com a falta de higiene de pessoas instaladas num antigo café.
© Lusa
País Indignação
"Vivemos cheios de medo e na imundice", resume Aurélio Simões, secretário da Associação de Moradores do Bairro do Leal (AMBL), responsável por 16 casas bem conservadas do aglomerado que contrastam com os destroços da Travessa das Musas, onde apenas vivem duas famílias num terreno entregue pela Câmara ao Fundo Imobiliário criado para demolir o bairro do Aleixo.
O problema reporta-se a uma comunidade estrangeira e surgiu "há um ano ou dois", os moradores asseguram ter denunciado o caso a várias entidades, mas o antigo café arrendado aos imigrantes continua ocupado e, no interior, vislumbram-se cozinhas junto a panos estendidos no chão, como se fossem camas, a par de outros pendurados, como que a servir de paredes.
"Nos piores dias, os contentores do lixo ficam atulhados de tudo o que se possa imaginar que há numa lixeira. Todos os dias defecam, urinam, deitam óleos, comida e lixos na rua. Há ratos. Estamos aqui sozinhos, sentimos uma insegurança tremenda", descreve Luís Moreira, de 32 anos.
O operador de loja mora nas habitações da AMBL, edificadas depois do 25 de abril de 1974, um pouco abaixo da primeira fase do bairro situado do centro do Porto, encravado entre as ruas das Musas e do Bonjardim, não muito longe da Câmara do Porto.
Na rua onde vive Leopoldina Ferreira apenas resta um vizinho, pelo meio há ruínas e mato. A casa do lado, devoluta, foi estroncada para "defecarem lá dentro".
A esperança da mulher de 62 anos é que a Câmara resolva o problema: "Os vizinhos foram saindo, eu pensei: qualquer dia também me chamam. Mas fiquei de recordação. Queria sair para pertinho, pedi ao vereador [da Habitação] Manuel Pizarro. Mas nem perto nem longe, não me resolvem o caso", conclui.
A Câmara esclareceu à Lusa não haver no bairro inquilinos municipais e que o terreno do Bairro do Leal foi entregue ao Fundo do Bairro do Aleixo, em relação ao qual a autarquia pediu, em abril, um relatório ao gabinete interno de auditoria.
A seguir a um terreno baldio vedado com uma rede enferrujada, cheio de enormes pedras e casas emparedadas com estendais e roupa a secar, surge o edifício que os residentes dizem ser um antigo café arrendado a "imigrantes romenos".
Não se vê ninguém dentro do antigo estabelecimento que os moradores desconfiam não ter água ou casas de banho, mas há roupa pendurada no exterior e o vento empurra para o exterior um odor difícil de suportar.
Carla Santos, de 35 anos, lamenta nem poder abrir a janela de casa, sob pena de ver o que não quer: "Trocam de roupa cá fora, fazem as necessidades na rua. Ainda outro dia abri a janela e vi um homem de calças na mão virado para a minha parede", descreve.
"A situação é esta porque não há ninguém que se imponha, que nos socorra ou que nos ajude", lastima Aníbal Santos, presidente da AMBL, enquanto sacode "o mosquedo" e se queixa de "varejas e ratos".
O responsável diz que o antigo estabelecimento tanto pode estar ocupado por "três ou quatro [imigrantes] como por 10 ou 20, que, de tempos a tempos, "vão embora uns e aparecem outros" e que "saem de manhã e voltam por volta das 17h:00".
O que fazem não sabe, imagina apenas que "vão para os supermercados pedir".
"Dormem todos ali", descreve.
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