É evidente que “a natalidade e o decréscimo da população é um problema gravíssimo” em Portugal e a presença da troika nos últimos três anos em nada ajudou, ao impor um “esforço de consolidação orçamental” que resultou em “cortes em prestações sociais”, como o Rendimento Social de Inserção (RSI), o Complemento Solidário para Idosos, e o abono de família. Isto “criou um aumento de taxa de pobreza, entre os jovens, desempregados e famílias monoparentais”.
As afirmações são de Paulo Trigo Pereira, economista e presidente do Instituto de Políticas Públicas (IPP), que na antena da Rádio Renascença diz ainda discordar das novas tabelas de IRS, por lhes faltar “justiça”. Quanto às medidas do Governo sobre a natalidade, classifica-as de “micromedidas” que só por si não vão inverter o ciclo que o número de nascimentos tem seguido nos últimos anos.
É necessário que a economia cresça, gere emprego e estabilidade. Caso contrário, avisa, “os jovens vão continuar a sair do país e os que ficam vão ou não ter filhos”. Mas Paulo Trigo Pereira vai mais longe e alerta que os que ficam, ficam muitas vezes com “contratos precários ou [trabalham a] recibos verdes”, motivo pelo qual “nunca vão constituir família, pois não têm condições para pagar um crédito à habitação ou para ter um mínimo de estabilidade”.
Neste sentido, o presidente do IPP deixa um aviso ‘à navegação’: “Enquanto Portugal não conseguir crescer e criar emprego e emprego estável, não vamos ter padrões de vida minimamente aceitáveis e as pessoas não podem fazer projeções”.
“Ter um filho não é uma decisão que se toma para dois anos, é para uma vida. Se uma pessoa não tem uma perspetiva de cinco ou dez anos de ter alguma estabilidade, vai ter filhos?”, lança a questão.