Ana Hatherly está "entre os grandes vultos da cultura portuguesa"
A artista e escritora Ana Hatherly, que morreu hoje aos 86 anos, "muito contribuiu para a renovação da literatura e das artes visuais", estando "entre os grandes vultos da cultura portuguesa", afirmou hoje o secretário de Estado da Cultura.
© DR
País Barreto Xavier
Em comunicado, Jorge Barreto Xavier lamenta a morte da autora, sublinhando a "expressão eclética do seu talento e sensibilidade artística", assim como a "intervenção na sociedade, enquanto professora, investigadora e ensaísta".
Ana Hatherly, que nasceu no Porto em 1929, teve um percurso transversal na literatura, cinema e artes plásticas, cruzando quase sempre as diferentes expressões artísticas. Tem o nome inscrito na vanguarda da poesia e na forma como o poema é escrito no papel, tornando-se numa obra visual.
O funeral da autora realiza-se na sexta-feira, para o cemitério dos Olivais, em Lisboa. O corpo estará em câmara ardente a partir das 17:00 de quinta-feira, na Basílica da Estrela.
Licenciada em Filologia Germânica e doutorada em Estudos Hispânicos, Ana Hatherly teve ainda formação em cinema e música e foi professora catedrática da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde co-fundou o Instituto de Estudos Portugueses.
A autora foi um dos fundadores do PEN Clube Português e tem o nome inscrito na criação das revistas "Claro-Escuro" e "Incidências".
Iniciou a carreira literária em 1958 - celebrou 50 anos em 2008 -, tendo publicado, nos primeiros anos, as obras "Um ritmo perdido" e "As aparências".
"Eros frenético", "Anagramas", "A dama e o cavaleiro", a série "Tisanas", "Rilkeana", "A mão inteligente" e "O cisne intacto: Outras metáforas - Notas para uma teoria do poema-ensaio" são algumas obras publicadas por Ana Hatherly, traduzida em mais de uma dezena de línguas.
Em 2012, algumas das micronarrativas da série "Tisanas" foram transpostas para teatro, pelo encenador António Pires, sob o título "Tisanas - um antídoto contra o cinzento dos dias", porque, como então destacou, "mesmo quando [Ana Hatherly] pinta um quadro mais negro ou triste, parece que há sempre uma esperança, volta a construir".
Em 2013, a Cinemateca Portuguesa exibiu oito curtas-metragens assinadas pela poetisa e artista plástica, entre os quais "Sopro 57-An-39", "Exercícios de Animação" e "C.S.S." ("Cut Silk Sand"), que a autora fez na London Film School, e "Revolução", estreada na Bienal de Veneza, em 1976, com imagens de graffitis e murais das ruas de Lisboa, dos anos que se seguiram à revolução de Abril.
Quadros de Ana Hatherly, sobre cartazes desse período fazem parte da mostra "Tensão e liberdade", patente no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
A Sociedade Brasileira de Língua e Literatura distinguiu-a em 1978. Em 2009, foi distinguida como Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Foi ainda premiada pela Associação Portuguesa de Escritores e pelo PEN Clube.
De acordo com a Fundação Calouste Gulbenkian, está em curso a tradução para língua francesa da novela "O Mestre". No prelo estão também um volume de homenagem, publicado pela Universidade Federal Fluminense no Brasil e outro de ensaios, pela Theya, que completa uma trilogia sobre o barroco.
O espólio da autora está à guarda da Biblioteca Nacional, no Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea, e parte da biblioteca pessoal está na Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.
Nas artes visuais, tem obra presente em várias coleções, nomeadamente na Fundação Calouste Gulbenkian e no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Museu do Chiado, Coleção Berardo e Cinemateca Portuguesa.
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