Reclusos isolados para não serem agredidos, familiares sob ameaça
Traficantes de droga detidos fazem a 'vida negra' a outros reclusos viciados, chegando a ameaçar as famílias para receber pagamentos. Solução das cadeias é fechar os reclusos ameaçados quase 24 horas por dia em celas isoladas, reporta o Jornal de Notícias.
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País Cadeia
“Isto é um problema sério nas cadeias”, começa por dizer Jorge Alves, presidente do Sindicato do Corpo Nacional da Guarda Prisional, ao Jornal de Notícias. Em causa está o facto de se isolarem reclusos, às vezes 22 horas por dia, para que estes não estejam vulneráveis às ameaças de traficantes de droga também detidos.
A publicação apresenta um caso concreto, Saul, que ficava isolado numa cela durante dias a fio. O recluso, viciado em heroína, não conseguia resistir à oferta de drogas a crédito. Como tinha fontes de rendimento constante (dono de imóveis arrendados), tornou-se num alvo.
Em pouco tempo, a mãe de Saul começou a receber telefonemas com ameaças - se não fizesse transferências de dinheiro para contas de NIB de familiares dos traficantes, o filho era agredido ou morto. O número da mulher começou a circular na cadeia e esta começou a receber ameaças por dívidas reais do filho e outras inventadas. Entretanto, “o prato do dia era andar à porrada”, afirmou Saul ao Jornal de Notícias.
As coisas só começaram a acalmar quando o Estabelecimento Prisional (EP) de Paços de Ferreira, onde Saul se encontrava antes de sair em liberdade, em agosto, colocou o homem de 49 anos isolado numa cela individual, onde chegou a estar 22 horas por dia, indo ao pátio duas horas por dia, “se não chovesse”.
Uma prisão dentro de outra, feita à medida de cada cadeia
“Você vai ao EP de Coimbra e encontra ali homens que ficam 24 horas fechados numa camarata, na cave, onde não veem a luz do dia durante meses. Não vêm ao recreio com medo de levarem porrada”, avança Jorge Alves.
O responsável sublinha que quem trafica e faz ameaças, regra geral, sai da cela de manhã e só volta à noite, porque ninguém os denuncia. Jorge Alves refere também que a solução para os reclusos que se queixam – o isolamento – não é nada que venha da Direção-geral das cadeias. “Cada cadeia tem o seu método”, acrescenta.
A mãe de Saul escreveu várias vezes ao diretor da cadeia a queixar-se da situação e da extorsão e constantes ameaças (das quais pouco podia fazer com medo de represálias para o filho) mas que nunca teve resposta. Só quatro meses antes de sair em liberdade é que foi colocado numa cela à parte.
Saul, o recluso visado, fala apenas de “um mal menor”. Garante que não é fácil estar fechado quase o dia todo, mas tendo em conta que parou de ser agredido, sustenta: “A mim, ajudou-me”.
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