Cavaco "tomou a decisão que devia tomar" e "em consciência"
O cardeal-patriarca afirmou hoje que o convite do Presidente da República a Pedro Passos Coelho, para formar Governo, foi uma decisão "em consciência", e acrescentou que todos os responsáveis políticos devem ter em mente o "bem comum".
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País Cardeal
O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, "tomou a decisão que devia tomar, ele é um protagonista muito importante da vida política. Há outros protagonistas - a Assembleia da República, os tribunais, as instituições em geral [que devem tomar] também as suas decisões em consciência e sempre tendo em vista o bem comum", afirmou Manuel Clemente numa conferência de imprensa realizado no patriarcado.
Cavaco Silva indigitou Passos Coelho para primeiro-ministro, com quem se reuniu na terça-feira última, tendo dado o seu acordo à proposta de constituição do XX Governo Constitucional, que não dispõe de apoio maioritário no parlamento.
O cardeal-patriarca foi questionado pelos jornalistas sobre a situação política portuguesa e defendeu que Cavaco Silva fez uma "leitura" da atual situação "que em consciência achou que devia fazer".
Manuel Clemente não deixou de lançar um repto aos que se afirmam católicos "em todas as forças políticas", e os que confessam a admiração pelo papa Francisco, para que ajam e apresentem propostas inspirados nestes valores.
"Se há, neste momento e na sociedade portuguesa, em todas as forças políticas pessoas que se dizem admiradoras do papa Francisco e até católicas, levem isso à consequência, na perspetiva partidária de cada um, que é legítima", sublinhou.
O cardeal-patriarca, que é também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), afirmou que, em todos os quadrantes, há pessoas que "valorizam muito o que o papa Francisco tem dito, tem feito".
"Tomem mesmo em conta, em devida conta e aplicação concreta, o que o papa Francisco tem dito", exortou.
Nesse sentido, referiu os "grandes princípios" da Doutrina Social da Igreja - "dignidade da pessoa humana, bem comum, solidariedade e subsidiariedade" e lembrou a "ecologia integral", que o papa apresentou na sua mais recente encíclica "Laudato si".
Segundo afirmou o prelado, estes princípios exigem o "respeito ativo por tudo aquilo que é da ordem da criação, dos mais pequenos seres à própria pessoa humana", e a "defesa da vida, desde a gestação à morte natural".
Questionado quanto à possibilidade de um Governo de coligação de Esquerda, o líder da Igreja Católica portuguesa não se mostrou inquieto ou preocupado e retorquiu: "A vida política portuguesa nos últimos 40 anos tem tido vários protagonistas de Direita, Centro e de Esquerda".
"Faz parte da sociedade democrática", rematou.
Manuel Clemente aproveitou para sublinhar os princípios de que a Igreja Católica não abdica, designadamente a "dignidade de toda a pessoa humana - uma dignidade ativa -, a dignificação em condições de vida, a começar pela própria vida garantida em todas as suas fases".
O presidente da CEP recordou a posição tornada pública em abril último, pelos bispos portugueses, que referiram que "a sociedade portuguesa assentar numa base comum de valores sociais e humanistas".
O cardeal-patriarca falava na conferência de imprensa sobre o Sínodo extraordinário sobre a Família, que se realizou este mês, em Roma, e no qual participou.
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