Geração antes do 25 de Abril estava no "caminho do terrorismo"
O historiador José Pacheco Pereira defendeu hoje, no Funchal, que foi a chegada da democracia a Portugal que pôs fim ao jornal "Comércio do Funchal", uma das mais famosas publicações da oposição ao regime fascista.
© Global Imagens
País Pacheco Pereira
"A democracia acabou com isto tudo, no bom sentido", disse o historiador e analista político no decurso de um encontro com jornalistas, antecipando o debate público agendado para esta sexta-feira sobre o tema "Comércio do Funchal - um jornal necessário", promovido pela galeria de arte Porta 33.
Pacheco Pereira, antigo deputado e dirigente do PSD, afirmou que a democracia teve um "efeito importante" naquela geração de portugueses, pois ela "estava num caminho muito perigoso à data do 25 de Abril, que era o caminho do terrorismo".
"Mesmo em vésperas do 25 de Abril, a tendência para a ação terrorista é muito forte. Há organizações que se vão organizar para fazer raptos, para fazer execuções. E essa tendência é quebrada exatamente pelo 25 de abril", explicou, sublinhando que depois dos anos do PREC, essa geração inseriu-se, de um modo geral, no "'mainstream' político".
O "Comércio do Funchal" era um jornal assumidamente de esquerda, mas beneficiou do facto de nunca ter sido setorizado, ou seja, nunca ter pertencido a um grupo ou fação em particular.
"A sectarização só aconteceu no final", disse Pacheco Pereira, salientando que, até lá, foi um "jornal único", produzido na Madeira, capaz de contornar a censura, com distribuição nacional e muito lido nas universidades.
O encontro com jornalistas contou, também, com a presença de alguns dos principais protagonistas do "Comércio do Funchal", como Vicente Jorge Silva, José Manuel Barroso, Vítor Rosado e Ricardo França Jardim, que narraram algumas peripécias vividas naqueles anos.
"O Comércio do Funchal existiu precisamente por ser feito na Madeira. Se fosse no continente, não teria tido o mesmo sucesso", assegurou Vicente Jorge Silva, realçando que havia uma relação de proximidade, sobretudo com o censor e com as autoridades locais, que facilitava a afirmação do jornal.
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