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"Contra pólvora não há herói". Relato do português que escapou a ataque

O combate acabou por ser adiado e a comitiva portuguesa já chegou a Faro, este sábado, depois de o ataque realizado na sexta-feira ao hotel onde se encontravam.

"Contra pólvora não há herói". Relato do português que escapou a ataque
Notícias ao Minuto

23:20 - 06/02/16 por Zahra Jivá

País Dublin

Homens armados atacaram o átrio de um hotel em Dublin onde estava a comitiva do pugilista português João Bento ‘Algarvio'.

Num testemunho emocionado dado ao Notícias Ao Minuto, o pugilista conhecido por Bento ‘Algarvio’ conta os momentos de terror vividos na sexta-feira à tarde, durante a pesagem para um combate de boxe em Dublin, na Irlanda.

Duas pessoas acabaram por ficar feridas e uma chegou mesmo a morrer. O português presenciou tudo. Numa descrição detalhada, desde o cheiro da pólvora ao sangue a escorrer da vítima, Bento ‘Algarvio’ relata na primeira pessoa o incidente.

“Ia ao título mundial. Hoje [sábado] ia combater. Ontem foi a pesagem oficial e fizemo-lo como é normal. Mas depois disse que queria ir comer. Estava cheio de fome e disse à minha comitiva para irmos ao restaurante”, recorda, explicando que o restaurante era dentro do hotel.

Consigo estava o seu preparador físico, Ricardo Ferro, e o fisioterapeuta, Carlos Pereira. Já sentados à mesa depois da pesagem para o combate ‘Clash of the Clans’, que deveria acontecer no domingo.

“Depois de sentados vimos pessoas a correr, ouvimos tiros e pessoas aos gritos. Um deles apontou-nos a arma e mandou-nos deitar”, descreve.

Segundo João Bento, os três homens armados estavam bem disfarçados, com fardas que se assemelhavam ao Grupo de Operações Especiais (GOE). “A primeira vez que os vimos pensávamos que era uma operação policial. Só se via os olhinhos deles”, conta.

“Eram três, dois entraram pela sala de imprensa e um pela porta principal com armas A-47”, recorda.

No restaurante estava apenas um dos homens armados. Poucas eram as palavras proferidas por ele. “Só dizia: ‘Go down, go down’ [baixem-se]. Mas matou o homem logo ali à nossa frente. Baixámos a cabeça e ouvimos os tiros. Ficámos ali quietinhos”, adianta.

“Eles tinham a intenção de matar a pessoa que mataram. Já deviam estar à procura dele”, sublinha João Bento, em relação às motivações dos atacantes.

O pugilista afirma ainda que foi tudo muito rápido. “Foi em dois minutos, entraram, mataram e desapareceram. Contra pólvora não há heróis. Quando matou o homem vi o sangue escorrer”, refere, acrescentando que a vítima deveria ser um treinador irlandês..

“A imagem de ter visto aquelas armas. São coisas que ficam na nossa memória. Baixei-me e rezei. Era um cheiro a pólvora impressionante. Estavam lá crianças a gritar pelos pais”, lembra.

Relativamente ao seu regresso a Faro um dia antes do esperado, o pugilista demonstra-se bastante triste. “Fomos obrigados a ficar no quarto. Só saímos hoje às 5 horas. Foi tudo anulado, deveríamos para voltar só amanhã mas marcaram-nos o voo para hoje. Estou revoltado. Treinei muito para este torneio e foi adiado. Mas o que não nos mata, torna-nos fortes. Pela morte daquele homem ainda tenho mais força para combater”.

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