"Tiraram-me as meninas de vez. Destruíram-me a vida"
Nelson Ramos diz que jamais perdoará a ex-companheira.
© RTP
País Caxias
Nelson Ramos deu uma entrevista exclusiva ao programa 'Sexta às 9' da RTP.
No dia da tragédia, o pai de Sónia Lima havia ligado, por diversas vezes, a Nelson. "Estava preocupado. Dizia-me que ela não estava bem, que não comia e que não sabia se ela se queria matar", revelou o pai das meninas.
Em entrevista à RTP, Nelson Ramos disse que, ao fim de três telefonemas por parte do ex-sogro, decidiu ir até à polícia. Antes de sair de casa, o telefone tocou novamente. Era outra vez o pai de Sónia, mas desta vez era um agente da PSP quem falava.
“Disseram-me para ter calma e que a Sónia tinha sido encontrada em Oeiras, mas não sabiam qual era o carro dela e acreditavam que as meninas lá estivessem”, contou.
Momentos antes, Nelson havia falado com um amigo que lhe havia revelado a matrícula do carro da mãe das meninas. Com os dados na sua posse deu-os à polícia e chegou então a confirmação de que Samira e Viviane não se encontravam no interior da viatura.
Nervoso e preocupado dirigiu-se à praia da Chiribita, entre Paço de Arcos e Caxias. “Vi o carro com a mala aberta. Vi as cadeirinhas das meninas e fui a correr para junto do muro”, recordou.
Foi então que ficou a saber que as duas crianças estavam desaparecidas e que Sónia tinha sido resgatada da água com vida.
De lágrimas nos olhos e com a voz embargada, Nelson Ramos desabafou à RTP: "Tiraram-me as meninas de vez. Destruíram-me a vida”.
Um conto de fadas que acabou da pior maneira
Nelson e Sónia conheceram-se através da internet, mais precisamente no chat da rede social My Space. Ele foi para a Suíça para um trabalho sazonal. Quando regressou a Portugal já não voltou para a sua terra natal, o Minho. Ficou em Lisboa para estar com Sónia. “Era uma grande paixão”, contou Nelson, revelando que pouco tempo depois a ex-companheira engravidou e o casal decidiu viver na mesma casa.
Nelson trabalhava fora de casa, enquanto Sónia se dedicou exclusivamente às filhas.
Tudo corria bem. Samira nasceu a 20 de fevereiro de 2012 e a alegria foi maior. Depois seguiu-se nova gravidez que terminou com um aborto espontâneo e pouco depois nasceu Viviane, em junho de 2014.
Sónia era, nas palavras de Nelson, uma mãe “muito cuidadosa”. “Ao ponto de exagerar. Ela tinha cuidados extremos com as meninas”, contou.
Mas a relação deteriorou-se e o pai das duas crianças, cuja vida terminou de forma trágica, admitiu terem existido momentos violentos.
“Houve situações de violência. Havia violência verbal e física que partia sempre dela e era praticamente sempre à frente das meninas”, apontou.
Nelson revelou que a primeira vez que foi confrontado pela ex-companheira com acusações de abuso sexual da pequena Samira foi aquando da separação. “Foi um momento muito conturbado. Fui expulso de casa, obrigaram-me a dar a chave de casa e acusaram-me de ser pedófilo. Disseram que estava a abusar das crianças e que dava beijos na boca da Viviane”.
Mas Nelson garante que são acusações falsas: “Nunca fiz nada às meninas. Sempre cuidei delas. Tudo o que lhes dava era amor e carinho, mais nada”, frisou.
Acusações de abusos sexuais e respectivos exames médicos
A 2 de novembro, Sónia foi viver para casa dos pais com as duas filhas. Duas semanas depois dirigiu-se ao Hospital Amadora-Sintra, na companhia da mãe, onde pediu que Samira fosse examinada: acusava Nelson de abusar sexualmente da filha.
O relatório clínico acabou por ser inconclusivo quanto aos alegados abusos, mas crítico relativamente ao discurso de Sónia: “Mais se informa que, no decorrer da entrevista, se verificaram algumas incongruências relativamente às datas dos supostos episódios, bem como ao próprio relato dos alegados abusos, uma vez que perante o Serviço Social [Sónia] mencionou que relativamente à criança em causa ‘nunca houve nada’. No entanto, esta informação não é compatível com a proferida perante a equipa médica”.
Mas Sónia não se conformou e poucos dias depois foi ao Hospital Dona Estefânia pedir um novo exame. Nelson só ficou a saber da realização destes exames quando recebeu uma fatura do hospital pediátrico com contas para pagar. Dirigiu-se à unidade hospitalar e foi informado de que estava a ser acusado de abusar sexualmente da filha. Foi então que contactou um advogado.
Nelson Ramos garante que houve “falhas” por parte das instituições. “Fiz os alertas que podia, não podia fazer mais do que isso e contactei a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens”.
Contudo, o relatório da Segurança Social que atestava a existência de “muitos factores de risco que poderão condicionar o saudável desenvolvimento da Samira e da Viviane” apenas foi emitido cinco dias antes da tragédia. Chegou a Nelson Ramos um dia depois das duas filhas terem morrido.
“Não vou perdoá-la nunca. Não consigo. Nós os dois dissemos muitas vezes que as meninas são o nosso maior tesouro. Nunca lhe perdoarei. Tenho chorado muito as minhas filhas. Quero e desejo que se faça justiça em nome das minhas filhas, porque eu avisei muita gente”, rematou.
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