Madeireiro acusado de incêndios diz que estava com uma depressão
O madeireiro acusado de ser o autor de três incêndios em Penacova, no verão de 2015, afirmou hoje no Tribunal de Coimbra que "não andava bem da cabeça", num momento da sua vida em que bebia "muito".
© Reuters
País Penacova
Na primeira sessão de julgamento, o madeireiro, nervoso e combalido, admitiu, num discurso de respostas curtas, muitas vezes apenas de "sim" ou "não", ser o autor dos três incêndios que deflagraram a 08, 09 e 10 de agosto em Penacova, distrito de Coimbra.
O arguido confirmou quase a totalidade do despacho do Ministério Público, que o acusa de três crimes de incêndio florestal: um deles chegou a ter três frentes ativas, consumiu cerca de 130 hectares de área florestal, entre 10 e 12 de agosto (dia em que o fogo foi declarado extinto), e mobilizou 38 corporações de bombeiros, num total de 231 homens e 74 meios de apoio terrestre e aéreo.
"Não andava bom da cabeça", justificou o homem de 49 anos ao coletivo de juízes, contando que estava com uma depressão há cerca de dois anos.
Entre 2013 e 2015, o arguido, que era acompanhado no Hospital Psiquiátrico de Sobral Cid, afirmou que não trabalhou e que tentou suicidar-se duas vezes.
O mal-estar, contou, surgiu depois de nas obras de uma casa que estava a construir e que não conseguiu terminar ter perdido os 100 mil euros que tinha dado a um empreiteiro, que entretanto "faliu".
Durante esses dois anos, o madeireiro admitiu que "tinha problemas" com a esposa e que "bebia demais", ao mesmo tempo que tomava medicação, tendo-se recusado a ser internado no Sobral Cid, após recomendação médica.
Sobre o incêndio de 10 de agosto, afirmou que, ao contrário da acusação, apenas criou um foco de incêndio.
Durante a sessão, o arguido mostrou-se visivelmente abalado, comovendo-se assim que falou da filha e quando a sua mulher prestou depoimento enquanto testemunha.
De acordo com a sua companheira, o madeireiro era "amigo, honesto, cumpria com os seus negócios e era muito trabalhador" até 2013, quando "teve azar com a casa". Aí, "a situação alterou-se".
"Ficou totalmente diferente. Ficava fechado em casa, na garagem, e deixou de trabalhar. Tomava muita medicação e começou a beber", disse, referindo que o arguido disse "duas ou três vezes" que se queria suicidar e tornou-se "mais agressivo".
"A cabeça dele já não dava. Não conseguia tomar decisões, mas também não admitia a situação", constatou a mulher, sublinhando que nunca lhe passou pela cabeça "que ele fizesse um disparate destes".
Para a companheira, não havia qualquer razão para o incêndio ser um ato "de vingança", nem de "vantagem económica", visto que desde 2013 o arguido não fazia qualquer tipo de negócios e "nem tinha capacidades" para o fazer.
No Tribunal, um reformado, que apanhou o madeireiro em flagrante delito, a 10 de agosto, afirmou que o suspeito "parecia estar embriagado" e que lhe tentou tirar o telemóvel para não telefonar à GNR.
Outra testemunha disse que se cruzou com o arguido quando avistou o início do incêndio e ligava para o 112, sendo que este deu-lhe indicações de que o fogo "era mais para cima", possivelmente para enganar os bombeiros.
O arguido encontra-se em prisão preventiva no estabelecimento prisional de Aveiro.
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