"Há de facto um desconhecimento generalizado da mais valia que representa aprender a língua de herança, de origem, seja para a aprendizagem de qualquer outra língua estrangeira ou até a língua dominante", explicou Carla Amado, a coordenadora do ensino do português na Alemanha até ao final de agosto, substituída entretanto por Rui Azevedo.
Carla Amado referiu que os emigrantes portugueses têm dificuldade em manter os filhos motivados para a aprendizagem do português porque muitas crianças e jovens já têm noções básicas do idioma, ignorando "a vantagem que se pode retirar do dominar uma língua que ainda é relativamente exótica", acabando por encarar a aprendizagem "mais como uma obrigação".
A antiga coordenadora do ensino do português na Alemanha acrescentou que os professores de língua alemã desencorajam a aprendizagem de outras línguas de herança.
"Infelizmente existe uma ideia generalizada, que até muitas vezes é suportada pelos próprios professores de línguas nas escolas aqui na Alemanha, (...) que investir na continuidade da aprendizagem do português a nível formal prejudica aprendizagem do alemão", disse à agência Lusa em Berl.
Carla Amado disse que a ideia não pode estar mais errada, acrescentando que "o cérebro bilingue está exponencialmente preparado para a aprendizagem lógica de outras matérias como a matemática, etc. Há muitos artigos sobre esse assunto".
Rui Azevedo, que assumiu funções como coordenador do ensino do português na Alemanha no final de agosto, quer dar continuidade aos projetos desenvolvidos até agora de forma a "tornar a língua portuguesa o mais internacional possível e chegar a cada vez ao maior número possível de pessoas".
Para isso, o Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, responsável pela tutela de toda a rede do ensino de português no estrangeiro, tem trabalhado junto das escolas alemãs para tornar os cursos de português e as respetivas certificações reconhecidas.
Carla Amado acrescentou que a principal dificuldade é o facto de as escolas alemãs serem autónomas na escolha da oferta curricular e extracurricular, não existindo "nenhuma entidade nem Ministério, nem direção escolar que possa impor a uma escola se vai oferecer português, francês, inglês, o que seja".
A coordenação do ensino do português na Alemanha teve de contactar cada escola com o pedido de reconhecimento do curso de língua portuguesa.
"O nosso objetivo é vermos reconhecidos os nossos cursos, as nossas certificações, contarmos com uma maior carga letiva semanal para os nossos professores e alunos e isso dá muito trabalho porque são muitos estados e são muitas escolas", acrescentou Rui Azevedo.
Carla Amado garantiu que "o feedback das escolas tem sido muito positivo", existindo alguns entraves relacionados com questões burocráticas: "eles dizem que não podem libertar os alunos das outras atividades para poderem ir ao português, a disponibilidade das salas. Mas 80% das escolas está a reagir muito bem".
Além dos cursos para crianças e jovens já existentes, a coordenação do ensino do português na Alemanha vai passar a oferecer cursos para adultos, a começar já neste ano letivo.
De momento, o número de alunos a aprenderem o português no ensino básico e secundário chega aos 3.200, na sua maioria descendentes de portugueses ou de emigrantes de países lusófonos, mas também de origem ucraniana.
"Um fenómeno interessante e curioso são os descendentes de ucranianos que viveram em Portugal e que por causa da crise quiseram vir para a Alemanha, mas os pais fazem questão que mantenham o português porque, a maior parte deles, iniciou a escolarização em Portugal", acrescentou Carla Amado.