À margem da apresentação do seu novo livro 'O dom profano - Considerações sobre o carisma', José Sócrates foi questionado pelos jornalistas sobre as notícias que davam conta que o ex-primeiro-ministro não seria o autor da obra e teria pago a um professor para o escrever, começando por responder: "Acho que já não há ângulo de decência para olhar para esta investigação.
"Todas essas alegações são absolutamente falsas, desmentidas por toda a gente e isso só existe com um objetivo, que não devia ser um objetivo da justiça. O objetivo da justiça não é um objetivo político", defendeu o ex-primeiro-ministro, constituído arguido na Operação Marquês.
Na opinião de José Sócrates, "uma investigação que se centre nessa falsidade e numa campanha absolutamente lamentável" que o visa denegrir.
"A ação penal deve-se concentrar na descoberta da verdade e na descoberta de crimes e não em denegrir pessoas", disse.
De acordo com a revista Visão, o Ministério Público suspeita que Domingos Farinho, um professor de Direito, terá recebido 100 mil euros de uma empresa de um sócio de Santos Silva para escrever o livro de Sócrates.
Questionado pelos jornalistas sobre se o país tem neste momento boa liderança política, Sócrates respondeu: "eu acho que sim, como sabem eu sou um apoiante deste Governo".
O ex-primeiro-ministro esclareceu que "este livro não se destina a catalogar as características carismáticas" e, por isso, não quis fazer classificações sobre os líderes políticos nacionais.
"Não se pode confundir carisma com celebridade, com popularidade ou com notoriedade", disse, assegurando que não estava a fazer qualquer referência concreta.
No lançamento do livro - cuja apresentação foi da responsabilidade do deputado socialista Sérgio Sousa Pinto - estiveram o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, a ex-candidata presidencial Maria de Belém, o secretário de Estado da Defesa Nacional, Marcos Perestrello, o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, e o seu antecessor João Proença.
Os ex-membros de governos de José Sócrates como Pedro Silva Pereira, Mário Lino, Paulo Campos e José Junqueiro também marcaram presença, assim como o antigo comissário europeu socialista António Vitorino e as deputadas Joana Lima e Isabel Santos.
Na sessão de apresentação do livro - que inicialmente foi comprometida por um curto problema de som - José Sócrates dirigiu-se às pessoas que lotaram a sala da FIL, em Lisboa: "a vossa presença tem um significado político que extravasa estes temas, por mais interessantes que sejam, da teoria política".
"Eu quero que todos saibam que a vossa presença é muito importante para mim e que fico muito sensibilizada com ela. Compreendo bem o seu significado, em particular tendo aqui tantos e bons amigos e companheiros que partilharam comigo o melhor da minha vida política", disse.
O único momento em que a plateia interrompeu a oratória de Sócrates com palmas foi aquando da referência feita ao discurso do histórico socialista Mário Soares quando em 1986 foi eleito Presidente da República.
"Quando Mário Soares, na noite dessa eleição, começou o seu discurso dizendo esta é a vitória da tolerância", isso significou que ao carisma de lutador pela liberdade sucedeu o carisma do reconciliador", recordou.
O ex-primeiro-ministro voltou ao discurso onde tece duras críticas ao projeto europeu, no qual o poder "aparece hoje detido pelos novos aparelhos técnicos e financeiros sem rosto e sem responsabilidade", considerando "não há nada mais despótico do que um Governo de ninguém".