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Não faz palhaçadas, mas ajuda à festa no circo. E a culpa é dos sapatos

Com 69 anos, nem as maleitas da idade o levam a parar de fazer aquilo de que verdadeiramente gosta: sapatos de palhaço. Tudo começou quando já estava perto dos 30 anos e hoje não há palhaço em Portugal que não o conheça. Na sua garagem e apenas com as suas mãos, produz pequenas gigantes obras de arte.

Não faz palhaçadas, mas ajuda à festa no circo. E a culpa é dos sapatos
Notícias ao Minuto

08:55 - 05/02/17 por Inês Esparteiro Araújo

País Profissão

Quando se entra no local de trabalho do Sr. Marinho, consegue-se logo perceber à primeira vista o que este homem de 69 anos faz. Na verdade, pela sua idade, deveria apenas estar a desfrutar da reforma que ganha, juntamente com a sua mulher e com as netas que o acompanham diariamente e que vão “espalhando os livros” pelas suas mesas do ofício.

Mas José Leite Marinho ainda não está pronto para parar. Muito pelo contrário. E garante que apenas o fará “quando não tiver mais forças”.

Desde os 28 anos que o Sr. Marinho, residente desde sempre em Felgueiras, é o homem que faz os sapatos para os palhaços dos mais diversos circos que passam por Portugal, como é o caso do de Victor Hugo Cardinali, que há cerca de “um ano encomendou cinco pares para oferecer aos netos”.

Na sua garagem, repleta de peles preenchidas com alegres cores, é pelas suas mãos que são feitos sapatos que variam do número 26 até aos de meio metro. No seio de uma família cujos irmãos já eram sapateiros, o gosto pela arte do calçado começou logo desde pequeno.

“O meu irmão e a minha irmã mais velha recordam-se de que eu em criança já andava com uma faca pequena de cozinha a preparar sempre a forma” dos sapatos, contou ao Notícias ao Minuto. Mesmo assim, “se gigantes precisarem de um par de sapatos”, pois como nos explicou há muitas lojas que não vendem, José está pronto para os fazer.

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Apesar de viver longe da metrópole, isso nunca foi um problema para conseguir angariar clientes. Graças ao seu pequeno dom e paixão pelo circo, rapidamente começou a ficar conhecido pelo seu trabalho de sucesso um pouco por todo o país. Tudo começou quando um “senhor do circo, de Aveiro, passou aqui por Felgueiras”.

“Depois disso começou a espalhar-se a mensagem e eu comecei a fazer este artigo, sapatos coloridos para os palhaços. Até hoje já tenho enviado para França, Espanha, Itália, Ucrânia, Inglaterra e já foi pelo menos um par gravado com o meu nome para a Austrália”, enumerou.

O preço de cada par pode oscilar “entre os 70 euros, que são os do tamanho 26, até aos 250 euros”, aqueles que medem meio metro. Mesmo assim, este não é nem o mais caro que vendeu até agora nem o maior de todos, pois esse rótulo pertence “ao sapato da seleção” que criou quando Guimarães foi capital europeia do desporto.

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Por dia, só consegue fazer um sapato “porque aquela parte alta da frente, mesmo a da frente, a do bico, como eu lhe chamo”, envolve mais trabalho do que uma pessoa pode pensar.

“Não consigo fazer duas partes iguais”, explicou, “e para os sapatos ficarem iguais na parte da frente, só consigo fazer um de cada vez”. Assim, este avô precisa de fazer primeiro “o pé esquerdo e depois o direito para ficarem todos iguais”. “Mas mesmo que  tivesse as duas partes de cima iguais, não conseguia fazer mais. E tenho de lhe dar muito para fazer um sapato por dia”, partilhou num tom de brincadeira. Afinal de contas, a idade já começou a dar sinais de que é preciso abrandar o ritmo.

Vitor Hugo Cardinali, Solidade, “que é a irmã do Vitor Hugo”, o Circo Mundial, bem como outros circos mais pequenos são alguns dos clientes de José “que não tem nenhum filho que o ajude”. As netas é que às vezes “vão para a sua beira”, mas elas “gostam é de estudar”.

Apesar de não ser um trabalho que lhe dê um rendimento fixo mensal, José Marinho “vai vivendo com isto”.

“Eu vou fazendo vários sapatos e tenho encomendas. São sempre poucas mas vou fazendo três ou quatro pares e passados 15 dias ou três semanas há sempre um telemóvel a tocar dos circos. Eu tenho o contacto de todos os circos e eles têm os meu”, assegurou.

Normalmente, o 42 ou o 43 são os principais tamanhos pedidos. Mas se visitar o espaço de trabalho deste sapateiro, que fica em sua casa, verá que tem muitas alternativas consoante o gosto de cada um.

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Além das encomendas via telefone, vai de vez em quando a algumas feiras, sempre com uma condição que tem de estar assegurada: não ter de pagar nada. “Já fui convidado para muitas em que tinha de pagar 150 ou 200 euros e eu dizia logo à organização que não estava para isso, porque podia não fazer tanto dinheiro”.

Sobre o futuro, parece querer pensar num dia de cada vez. Para já, com a companhia dos seus moldes e das memórias de uma vida que em tempos já foi bem mais preenchida, cada dia ganha mais cor juntamente com algumas surpresas, pois garante que ideias não lhe faltam.

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