A informação obtida nos últimos 20 anos sobre as consequências da mudança do clima ou da poluição nos ecossistemas não podia dar origem a uma avaliação global porque os cientistas dos Estados Unidos da América (EUA) e os da Europa usam métodos diferentes, embora utilizem o mesmo bioindicador, ou seja, os líquenes.
"A grande importância [deste trabalho] é que, de agora em diante, já podemos pegar nos dados que temos dos EUA e da Europa, desde há 20 anos, e analisar os dois em conjunto, de forma integrada, para conseguirmos perceber os padrões de mudança nos ecossistemas", explicou hoje Paula Matos à agência Lusa.
Os líquenes refletem o efeito que as alterações globais têm nos ecossistemas e "esta é uma forma ótima de conseguirmos ver se os padrões são ou não globais, se existem situações generalizadas, se os padrões de poluição são iguais", independentemente do ponto do mundo, relatou.
A investigadora do cE3c -- Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, explicou que esta informação ajuda a tentar perceber o que pode ser feito para remediar a situação e, também, se as políticas que estão a ser implementadas a nível global têm ou não o efeito pretendido.
O trabalho, especificou Paula Matos, "não só integrou os dois métodos, como o tentou fazer usando todas as métricas mais utilizadas hoje em dia para medir os vários efeitos" das alterações climáticas e perceber se os resultados indicam o mesmo tipo de mudança.
Os líquenes são dos indicadores ecológicos mais estudados, há mais tempo, nomeadamente para aferir a qualidade do ar, já que funcionam "como um ótimo termómetro do ambiente" e, quando existe uma alteração, são dos primeiros a reagir.
Com a crescente preocupação a nível internacional com as alterações climáticas, a Organização das Nações Unidas (ONU), como outras organizações, tem pedido indicadores que possam ser usados à escala mundial, sendo fundamental que todos os cientistas trabalhem com a mesma metodologia para que os resultados possam ser integrados e comparados.
"O que fizemos foi arranjar uma maneira, uma métrica, e desenvolvemos uma espécie de uma 'framework' que permite usar, a partir de agora, os dois em conjunto, numa linguagem comum", resumiu Paula Matos.
Quanto à possibilidade de ser proposto um método novo a ser usado por todos, refere que "seria muito difícil convencer os cientistas dos dois continentes a adotarem" uma nova forma, a sua implementação demoraria muito tempo e nunca seria possível aproveitar os dados passados.
O estudo resultou da colaboração entre investigadores do cE3c, do Instituto Superior Técnico, da Universidade de Aveiro e do Serviço de Florestas do Departamento de Agricultura dos EUA e foi publicado na revista Methods in Ecology and Evolution.