"Em vez de se olhar para Trump deve olhar-se para os Estados Unidos"
Lisboa, 31 jan - Na atual situação deve "esquecer-se" Donald Trump e antes "olhar para os Estados Unidos", que o elegeram para Presidente e que podem implementar, ou não, o que vier a decidir, considerou hoje em Lisboa o embaixador Seixas da Costa.
© Global Imagens
País Seixas da Costa
"Devemos esquecer Trump e devemos olhar para os Estados Unidos. São os Estados Unidos que são responsáveis. São os Estados Unidos que escolheram Trump, são os Estados Unidos que podem, ou não, implementar aquilo que ele vier a decidir e determinar", referiu à Lusa no decurso de um debate organizado pelo Centro de documentação do Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais (IEEI).
Perante algumas dezenas e pessoas que assistiram ao debate "A Presidência Trump e as relações União Europeia - Estados Unidos" -- realizado no Centro Nacional de Cultura (CNC) onde também participaram como oradores Bruno Reis, investigador do Instituto de Defesa Nacional (IDN), Isabel Moreira, deputada do PS à Assembleia da República, Isabel Valente, do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra (CEIS20), e Guilherme d'Oliveira Martins, do Centro Nacional de Cultura --, Seixas da Costa defendeu a necessidade de "passar esta mensagem de responsabilidade" ao Congresso e aos políticos norte-americanos.
"Porque são eles que com as suas mãos vão fazer a imagem da América, num sentido ou noutro", disse, e admitindo no decurso do diálogo com a assistência alguma "reação" no próprio Partido Republicano a uma política que tem como primado o "economicismo com um discurso radical" muito próximo da extrema-direita.
O diplomata sublinhou nas declarações à Lusa terem sido "cidadãos concretos" a eleger Trump, ao darem expressão a determinados anseios " e em particular a determinados medos e inseguranças" através da escolha deste Presidente.
Numa referência ao tema do debate, o embaixador considerou que para a Europa é sobretudo revelante "a questão dos princípios", e quando se assiste à "disrupção do que nos parecia ser uma identidade de pontos de vista com impacto no trabalho externo, nomeadamente ao nível da política externa global".
Os efeitos da nova administração dos EUA na identidade europeia foi outro aspeto sublinhado, e quando se avolumam eventuais sinais de fratura entre os dois lados do Atlântico. "Trata-se do modo como os EUA, que durante muitos anos foram os impulsionadores da unidade europeia, hoje se mostram face a essa mesma unidade e mesmo favoráveis à disrupção dessa identidade".
No debate, Seixas da Costa frisou a necessidade de "dizer aos americanos que aquilo que a vossa administração faz vos isola do mundo", e após ter enunciado os efeitos da nova liderança da Casa Branca em diversos cenários globais. Mesmo que se considere "muito perplexo" face à atual situação e denotar uma crise congénita na União Europeia.
"Existe a questão da segurança, das relações com a Rússia, do futuro da NATO, mas também noutros cenários que diria quase de natureza civilizacional, as questões climáticas, a não-proliferação nuclear, ou até mesmo os fatores de disrupção à escala global que podem ter um impacto sobre todos nós, como é a tensão face à China e também a questão de natureza comercial, os acordos comerciais", disse.
A "disrupção com a realidade que Trump significa" vai implicar para o embaixador uma "situação de tensão" que se poderá prolongar, considerou.
"Hoje em particular face à questão das minorias, mas também a questões em torno das causas femininas, questões mais fraturantes, o modo primário e quase caricatural como a administração se está a comportar não vai deixar de ter consequências no tecido interno americano e na coesão dos Estados Unidos", vincou.
Um "instigador" dos movimentos extremistas e um adepto do "enfraquecimento da Europa, também por aplaudir o 'Brexit'", foi a designação escolhida pela deputada Isabel Moreira para definir Donald Trump. "E não entende a natureza da NATO, estando também a por a Europa em causa", assinalou na sua intervenção.
Já a historiadora Isabel Valente arriscou uma comparação entre a atualidade e a turbulenta Europa da década de 1920, manifestou-se "chocada" com recentes atitudes "racistas e xenófobas" que presenciou em instituições portuguesas vocacionadas para a investigação, e não deixou de tecer um cenário pessimista.
"O que está em causa no mundo é um novo mundo que nada tem de admirável mas antes de abominável", sugeriu, para depois considerar que a Europa deve "refletir, unir-se, tornar-se solidária", exigindo-se uma "enorme mobilização" da sociedade civil. "Faltam vozes encantatórias" na Europa, registou.
"Onde está a esperança?", perguntou por fim o moderador Álvaro de Vasconcelos. "Possivelmente a esperança está nestas novas gerações, que não conheceram a Europa das fronteiras nem a Europa dos nacionalismos".
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