Nos Açores, os bailes de gala do Carnaval ainda exigem ida à costureira
Os bailes de gala do Carnaval dos Açores, onde os mais célebres são os do Coliseu Micaelense, em São Miguel, continuam a exigir uma ida à costureira, para fazer um vestido novo ou reciclar um guardado no guarda-fatos.
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País Coliseu
"Notamos que cada vez há mais [procura]. As pessoas estão a preferir mais os vestidos originais. Apesar da crise, continuam a investir, podendo ir até aos 200 ou 300 euros", afirmou hoje à agência Lusa Sónia Amaral, de 53 anos, que tem um ateliê de costura com a cunhada Sónia Araújo, no concelho da Povoação, ilha de São Miguel.
Em 2016, as costureiras foram responsáveis pela criação de dois vestidos originais para os bailes do Coliseu Micaelense e este ano estão a preparar três, o que obriga, em média, as clientes a efetuarem duas a três provas.
Data de 1918 o primeiro festejo de Carnaval no Coliseu Micaelense, em Ponta Delgada, no decorrer de sessões de cinema.
Três anos depois começaram os bailes de gala, com as mulheres a trajarem vestido comprido e os homens fato preto, uma tradição que se repete até hoje durante a quadra do Carnaval.
Sónia Araújo, de 57 anos, considerou que, "de ano para ano, as pessoas procuram mais vestidos personalizados", confidenciando que as clientes querem "ter a certeza que não correm o risco de chegar ao baile e ver um vestido igual".
Segundo a costureira, são precisas "muitas horas e minúcia para fazer um trabalho bem feito e do agrado das clientes".
Também Isabel Melo, que costura há 25 anos, tem por esta época vários vestidos de cerimónia para terminar, admitindo, contudo, que atualmente muitas clientes optam por comprar um vestido nos saldos que, depois, levam à modista para acertos ou, então, reciclam o que já têm no guarda-fatos.
"Costumo fazer vestidos de gala todos os anos. Há quem leve para cada baile um vestido novo. Veem nas revistas, gostam do modelo e querem fazer igual", explicou a costureira de 45 anos, adiantando que um vestido feito à medida pode demorar uma a duas semanas a terminar.
Outras profissionais da costura assumem que o negócio já teve melhores dias.
Laudalina Couto, de 55 anos, contou que, mais do que talhar e coser vestidos novos para os bailes, tem feito, essencialmente, "pequenos arranjos".
"Ultimamente tenho deixado de fazer vestidos para o coliseu. As freguesas estão todas na crise e preferem" as lojas mais baratas, onde compram vestidos feitos, lamentou, acrescentando que vai "dando uns ajustes àquilo que elas compram".
Laudalina Couto adiantou que, noutros tempos, não tinha mãos a medir com trabalho para os bailes de Carnaval.
Os bailes de gala do Carnaval no Coliseu Micaelense reúnem habitualmente mais de duas mil pessoas cada. Este ano, em que a sala de espetáculos comemora o centenário, contam com a participação da cantora Wanda Stuart, que atuará com a Orquestra Ligeira de Ponta Delgada, além de outros músicos.
Em Ponta Delgada, também são famosos os bailes de gala de clubes privados, como o Ateneu e o Clube Micaelense.
Noutros concelhos e ilhas do arquipélago, os bailes, mais ou menos formais, são também tradição, sendo que em vários é obrigatório o uso de fantasias. Estas podem ser adquiridas em lojas, mas há quem continue a recorrer a costureiras para ter uma fantasia "à medida".
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