Fiéis revoltados com Igreja por expulsão de maestro gay
"Mais vale fechar a Igreja", afirmaram vários fiéis que participaram hoje na missa em Castanheira de Pera, distrito de Leiria, protestando contra a decisão da diocese de afastar maestro homossexual que dirigia o coro.
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País Castanheira de Pera
A pequena vila de 3 mil habitantes no norte do distrito de Leiria tem vivido alguns momentos de agitação, durante e após as celebrações dominicais, na igreja matriz, desde que a diocese de Coimbra decidiu afastar o maestro João Cláudio Maria, que dirigia o coro há seis anos.
O jovem de 21 anos fala em afastamento por parte do conselho económico da Igreja por causa da sua orientação sexual, já a diocese fala em "desrespeito" e "desobediência" ao padre da paróquia, José Carvalho.
Há três semanas que o coro se recusa a cantar durante a missa, vestindo-se de preto, com uma fita branca no braço, e também há três semanas que o padre da igreja de Castanheira de Pera não está nas celebrações.
Hoje, no final da missa, que contou com presença da GNR no largo da igreja, vários paroquianos protestaram contra a decisão da diocese.
"Mais vale fechar a porta da capela se o coro não canta", disse à agência Lusa Maria de Lurdes Cruz, de 67 anos.
A missa de hoje foi presidida pelo vigário-geral da Diocese de Coimbra, Pedro Miranda, que no início da celebração leu uma comunicação sobre a situação.
O vigário recordou que a 02 de janeiro uma exposição assinada pelo padre e pelo conselho económico dá conta de um "comportamento persistente de desobediência, rebeldia e falta de respeito" por parte do diretor do coro para com o pároco.
O comportamento culminou em atitudes "muito graves", em dezembro, onde o maestro terá excedido "todos os limites do que é tolerável".
Na altura, a 24 de dezembro, o coro cantou à revelia das ordens do padre.
Pedro Miranda realçou que foi essa a razão da demissão de João Cláudio das suas funções, que "continuou com o coro em funções, mesmo que desautorizado".
"A paróquia entrou neste estado de exceção de ausência de pároco", que se manterá "até que a decisão do pároco seja cumprida", asseverou, referindo que padres vizinhos assegurarão a assembleia dominical e os funerais.
Já o maestro, entendeu a comunicação como um "linchamento público" e uma afronta à sua honra e dignidade.
"Não tenho dúvida nenhuma que é por causa da minha orientação sexual", disse aos jornalistas, recordando que "as implicâncias" começaram no início do ano passado, quando passou a assumir a sua relação com um jovem da vila.
Até esse momento, "era o menino bonito que pôs toda a gente a cantar".
O jovem admite que as posições dos dois lados extremaram-se, mas que em fevereiro tentou uma conciliação, tendo acordado endereçar um pedido de desculpas.
Mas, passados alguns dias, o padre recusou o pedido de desculpas, dizendo que "não havia nada a fazer" e que algumas pessoas terão querido avançar com o afastamento, conta.
João Maria acredita que, por trás de toda a situação, não está o padre, mas sim o conselho económico.
Segundo o antigo diretor do coro, até agora só foi "acusado" pela diocese, sem ter tido a oportunidade de ser ouvido, mas promete que, um dia, a Igreja terá de o ouvir e que o coro continuará o seu protesto, aos domingos.
"É uma pouca vergonha. O rapaz fez mal a alguém? Tem a vida dele e qualquer um é livre", disse no final da missa, Gabriela Rodrigues, de 84 anos, visivelmente exaltada.
Outra paroquiana descendo as escadas, apelava ao coro: "não desistam meus meninos".
Maria Esmeralda Ricardo confrontou o vigário da diocese, à saída, acusando-o de ter tratado João Cláudio "como um cão".
"Estas conversas não podem ser feitas aqui, à frente de toda a gente", foi a resposta que Pedro Miranda deu.
Maria Dolores, de 64 anos, que teve João Cláudio a cantar no batizado do seu neto e no casamento do seu filho, sublinha que o maestro era a "jóia" da paróquia.
"A igreja ganhou mais gente e mais pessoas iam à missa por causa do coro. Acaba-se com o coro, acaba-se com a missa", salientou.
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