Projeto científico ajudou a recuperar "jardim" subaquático na Arrábida
Uma pradaria marinha que tinha desaparecido na Arrábida está novamente a crescer após uma intervenção do projeto científico Biomares, coordenado pela Universidade do Algarve (UAlg), que há 10 anos iniciou a replantação daquele "jardim" subaquático.
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País UALg
A pradaria que cobria o fundo do mar na zona do Portinho da Arrábida, integrada no Parque Marinho Professor Luiz Saldanha, desapareceu sobretudo devido à apanha de bivalves com ganchorra e aos sistemas de ancoragem que eram usados pelas embarcações, originando também a fuga da fauna que ali se abrigava.
Apesar de ser um processo lento - a pradaria inicial tinha aproximadamente 10 hectares -, graças ao transplante de ervas marinhas colhidas na Ria Formosa e no Estuário do Sado, já se conseguiu restabelecer uma pradaria com 100 metros quadrados e a área voltou a ganhar vida, explicou à Lusa a coordenadora do projeto.
"Originalmente, a pradaria já foi muito grande e consegue-se ver isso através de imagens aéreas da região", observou Ester Serrão, sublinhando que é muito diferente mergulhar numa pradaria marinha, que serve como habitat e "infantário" para várias espécies, do que mergulhar num local em que só existe areia no fundo.
Segundo a investigadora, a plantação assemelha-se muito às técnicas usadas na agricultura, mas só que é feita debaixo de água: os mergulhadores colhem as plantas num local, transportam-nas cuidadosamente, o mais refrigeradas possível, e voltam a plantá-las na água, no novo habitat.
"É uma espécie de agricultura marinha, foi preciso muito trabalho para conseguir uma pequena área plantada", referiu Ester Serrão.
Entre 2007, ano em que arrancou o projeto, e 2010, foram replantadas 60 parcelas na área do Portinho da Arrábida e da praia de Galapos, o que permitiu que, de ano para ano, a área fosse duplicando de tamanho, até se ter expandido naturalmente para uma área dez vezes superior aos 10 metros quadrados transplantados.
O coordenador do centro de mergulho científico do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), que funciona junto da Universidade do Algarve, disse à Lusa que uma das maiores dificuldades do projeto, além de ter que lidar com a perda total do habitat, o que significou ter quer começar do zero, foi o facto de ser uma zona em mar aberto, mais vulnerável, por exemplo, a tempestades.
Acompanhado por três estudantes, Diogo Paulo fez em março uma monitorização no local e relatou que já existe um efeito "claramente visível" no aumento da biodiversidade na zona, apesar de ser uma área relativamente reduzida face à dimensão inicial da pradaria.
"Em termos mundiais, do ponto de vista da transplantação de plantas marinhas, foi dos projetos mais bem sucedidos porque nós conseguimos criar uma resiliência nas áreas transplantadas", sublinhou o professor de mergulho científico.
Além de servirem como abrigo para espécies adultas - peixes, crustáceos, bivalves, cavalos marinhos ou estrelas do mar - as pradarias servem também como maternidade, já que são o local ideal para o desenvolvimento dos juvenis longe do olhar dos predadores.
Entretanto, durante a última década, os principais fatores que causaram o desaparecimento da pradaria já foram eliminados: os sistemas de amarração tradicionais foram substituídos por outros mais modernos, que não lavram o fundo do mar, e a apanha de bivalves com ganchorra foi proibida.
A equipa do Biomares aguarda agora a obtenção de financiamento para uma nova fase do projeto e estima continuar a monitorizar o crescimento da pradaria marinha duas vezes por ano.
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