"Gostamos de pensar que não temos preconceitos, mas não é a realidade"
Realiza-se amanhã, em Lisboa, o primeiro Fórum Nacional para a Diversidade.
© Reuters
País Diversidade
O Grande Auditório do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), em Lisboa, recebe amanhã, segunda-feira, o primeiro Fórum Nacional para a Diversidade, com o objetivo de promover, junto das organizações, a Carta Portuguesa para a Diversidade.
O Notícias ao Minuto falou com a organização do evento para perceber em que pé está Portugal em matéria de inclusão e diversidade. "Gostamos de pensar que não temos preconceitos, mas esta não é a realidade", refere Carla Calado, afirmando que "ainda há muito por fazer" para implementar leis que promovam a diversidade nas organizações.
O encerramento do evento ficará a cargo da secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Catarina Marcelino, e da secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes.Terá como convidada Isabelle Pujol, antiga gestora para a Diversidade e Inclusão da BP e fundadora e da Pluribus Europe, consultora francesa na área da Diversidade e Inclusão. E contará ainda com a presença do britânico Solat Chaudhry, fundador e diretor do Centro Nacional para a Diversidade do Reino Unido.
A Carta para a Diversidade, uma iniciativa da União Europeia, tem sido adaptada pelos países-membros às suas realidades, tendo como objetivo encorajar empregadores a implementar e desenvolver políticas de promoção da diversidade. Em Portugal, foi lançada em março de 2016 e conta já com mais de 110 organizações signatárias de todos os setores empresariais.
“Passado um ano do lançamento da Carta Portuguesa para a Diversidade, considerámos que estava na altura alargar esta discussão. Queremos elevar e melhorar o debate sobre a diversidade e a inclusão em Portugal, fazendo com que todas as pessoas se sintam acolhidas e vejam o seu potencial valorizado dentro das organizações, simultaneamente tomando nas suas mãos a responsabilidade por um ambiente mais inclusivo”, refere Carla Calado, gestora de projetos na área da inclusão económica da Fundação Aga Khan e membro da comissão executiva da Carta, com quem o Notícias ao Minuto falou e sobre a qual pode ler abaixo.
No dia do Fórum será, ainda, apresentado o Selo da Diversidade, que irá premiar as organizações com as melhores práticas no reconhecimento, respeito e valorização da diversidade no local de trabalho. Todas as organizações poderão candidatar-se até 22 de julho, devendo os resultados ser conhecidos publicamente numa Gala prevista para dia 10 novembro.
A diversidade e a igualdade de oportunidades no trabalho independentemente da origem cultural, étnica e social, orientação sexual, género, idade, caraterísticas físicas, estilo pessoal e religião ainda é uma realidade distante para os portugueses?
Nós gostamos de pensar que não temos preconceitos, mas esta não é a realidade. Todas as pessoas têm ideias pré-concebidas sobre o outro e agem em conformidade. É um mecanismo automático do nosso cérebro, que categoriza as informações sobre grupos de pessoas de acordo com a nossa experiência e/ou mensagens diretas e subliminares que vamos absorvendo do exterior sobre esses grupos. Algumas pessoas são mais desafiadas do que outras a pensar criticamente sobre estas crenças e preconceitos, pelo que me parece que é necessário garantir que todas as pessoas em Portugal têm esta oportunidade que, a meu ver, deveria ser garantida desde o nascimento, no decorrer dos nosso processos educativos formais, não formais e informais para garantir que começamos a fazer um caminho sério como sociedade.
Ainda há muito a fazer? De que forma a política e os políticos podem contribuir para sermos cada vez mais apologistas da diversidade?
Os representantes políticos têm um papel fundamental, não só porque existem já muitas leis progressistas a este nível no nosso país e, no entanto, há muito por fazer para assegurar a sua verdadeira implementação dentro das organizações, mas também porque podem e devem dar o exemplo e transmitir uma visão de sociedade futura onde todos/as têm lugar e são valorizados/as. Nesse aspeto, a maior representatividade política de grupos específicos, como as mulheres e pessoas com origens imigrantes por exemplo, seria uma mais valia para assegurar decisões mais coincidentes com as necessidades da sociedade portuguesa.
A comunicação social pode ter um papel fundamental na mudança de paradigma?
Sem dúvida. Todos temos preconceitos, mas a comunicação social tem como obrigação estar atenta e ser muito rigorosa e vigilante para, em vez de os confirmar, deixar espaço para a reflexão crítica sobre as vantagens de valorizar a Diversidade que nos carateriza, pois está numa posição de grande influência sobre a opinião pública. O nosso grupo de comunicação está já a pensar em dinamizar ações dirigidas a jornalistas.
As novas gerações estão mais sensibilizadas para esta questão?
Depende. Creio que a sensibilização das novas gerações depende muito do tipo de valores que lhes foram passados e das experiências que lhes foram proporcionadas durante o seu processo educativo familiar, comunitário e escolar. Cabe a toda uma sociedade preparar as próximas gerações e devemos fazê-lo dando o exemplo, mais do que apenas com discursos. Nesse sentido a Carta pretende proporcionar as oportunidades para desbravar esse caminho dentro das organizações e começar a preparar um novo futuro.
Sobre o Fórum para a Diversidade, quais os principais objetivos do encontro? Qualquer pessoa pode participar no Fórum?
Qualquer pessoa pode participar. Temos inscrições de organizações de todos os setores, de alunos/as das faculdades a diretores gerais de grandes empresas. Pretendemos lançar o tema de uma forma transversal nas organizações portuguesas e para isso contaremos com a inspiração de peritos externos, como a Isabelle Pujol e o Solat Chaudhry, e de peritos internos, como o João Tavares, e organismos como o INR, ACM, CITE e CIG. Além disso, temos uma enorme riqueza de experiências entre as organizações signatárias, por isso a partilha de práticas, reflexões e aprendizagens tem sido um dos pontos fortes do nosso movimento e neste Fórum pretendemos alargar esta discussão a outras organizações.
Qualquer empresa pode fazer parte da Carta para a Diversidade e, assim, candidatar-se ao Selo distintivo?
Qualquer organização, empresa ou não, pode juntar-se a este movimento – não implica já ter começado a pensar nas questões da Diversidade e Inclusão. Basta identificar-se com os valores e princípios nela inscritos e é totalmente gratuito. Trata-se de um movimento de cariz colaborativo, em que tudo é construído em conjunto, o que significa que as organizações são motivadas a participar ativamente em vários momentos. Já candidatar-se ao Selo da Diversidade (que é exclusivo para organizações signatárias) implica conseguir reportar práticas concretas de Diversidade e Inclusão dentro da organização, com evidências dos respetivos resultados.
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