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Sobreviventes do Holocausto puderam ver em Lisboa "a assinatura" que os salvou

Os 35 sobreviventes do Holocausto que viajaram até Lisboa, em busca do cônsul português Aristides de Sousa Mendes, viveram um “momento alto” quando puderam ver o caderno de vistos com “a assinatura que os salvou".

Sobreviventes do Holocausto puderam ver em Lisboa "a assinatura" que os salvou
Notícias ao Minuto

20:07 - 21/06/13 por Lusa

País Cônsul

“Estão a ver os documentos originais com a assinatura que salvou as suas vidas”, disse à Lusa, entusiasmado, Geraldo Sousa Mendes, 56 anos, um dos netos de Aristides, enquanto a comitiva rodeava o suporte com o caderno de vistos, cujas páginas, amarelecidas e até roídas pelo tempo, puderam folhear, à vez, com recurso a luvas brancas.

Letra desenhada, rabiscos vários, muitos por decifrar. Encontram-se os apelidos – dos próprios, dos pais, dos avós – e regista-se o momento em fotografia, para a posteridade.

O grupo integra 35 pessoas – 28 das quais, “na altura crianças de dois, três ou quatro anos”, foram salvas por Aristides, em 1940, ou são familiares de sobreviventes. As restantes são descendentes do cônsul de Portugal em Bordéus.

Recordando que o grupo de sobreviventes está em viagem “há duas semanas, tendo passado por Paris, Bordéus, Baiona, Cabanas do Viriato”, Geraldo não tem dúvidas de que foi em Lisboa que viveram um “momento alto”.

Geraldo não chegou a conhecer o avô, mas Aristides, o primo que vive em Lisboa, sim. Aliás, não precisa de dizer que é neto do cônsul – tem uma “inconfundível parecença”, como notou a diretora do Instituto Diplomático, Manuela Franco, que hoje recebeu o grupo na sala de leitura da biblioteca do Palácio das Necessidades.

Aristides, o neto de 67 anos, recua até aos cinco anos para falar da memória que tem do avô, “mais criada pelas histórias, pelas fotografias, do que real”.

O que encontros deste tipo têm de “fantástico”, assinala, é que acabam por “transformar os números em pessoas”.

Aliás, os números, nomeadamente os que apontam para 30 mil pessoas salvas por Aristides de Sousa Mendes, são motivo de discórdia até hoje. “Nunca saberemos quantas pessoas ele salvou”, frisou Manuela Franco, recordando que o cônsul não registou todos os vistos que concedeu e chegou a atribuir outros na rua.

“Não esperem pelos arquivos, vocês é que têm a memória”, apelou Manuel Dias, presidente do comité francês de homenagem a Aristides de Sousa Mendes, um dos organizadores da viagem, em conjunto com a fundação dos Estados Unidos.

Alguns dos elementos do grupo descobriram Aristides “há pouco mais de seis meses”, o que explica por que a memória “é um trabalho constante”, afirmou, recordando que, após a guerra, a maior parte das pessoas teve como “objetivo principal esquecer e reconstruir”.

Salazar foi responsável pelo “apagão” da ação do cônsul, mas, décadas depois, o reconhecimento “chegou tarde e ainda está em curso” em Portugal, aponta Geraldo.

A diplomata Manuela Franco reconhece que o reconhecimento “foi lento demais” e que “é inexplicável” a demora de “um gesto” do Estado português “em relação à família”, mas sublinha que “foi sendo feito”.

Aristides, o neto, reconhece a importância da verba anunciada na quinta-feira pelo secretário de Estado da Cultura para recuperar a casa de Aristides Sousa Mendes em Cabanas de Viriato, no concelho de Carregal do Sal, votada ao abandono.

Porém, sublinha, a verba, na ordem dos 300 mil euros, dá “apenas para o primeiro projeto” de reabilitação. “[Para] uma casa naquele estado não basta substituir a cobertura. Falta muito, muito, muito. É uma parte menor, mas importante”, porque “nunca se fez nada”, admite.

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